Blog do Mario Magalhaes

Seleção está tão bem que precisa de vacina para não se deslumbrar
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Mário Magalhães

Lance de Brasil x Paraguai – Eduardo Anizelli/Folhapress

Neymar, em SP – Eduardo Anizelli/Folhapress

 

A seleção tem jogado um futebol deslumbrante.

O Neymar, ainda mais.

Hoje à noite, nos 3 a 0 sobre o Paraguai, baixou o Garrincha nele.

É no momento o melhor do planeta.

O Tite deslumbra como técnico.

Está tudo, ou quase, tão bem que o deslumbramento que o time provoca é também risco.

O risco é o Brasil se deslumbrar com sua bola redonda, encantadora.

Para chegar ao hexa na Rússia, não pode se deslumbrar.

O pessoal da Fiocruz, cientistas top no mundo, talvez consiga criar uma vacina contra o salto alto.

Contra a vaidade excessiva.

Contra a autoconfiança exagerada, portanto suicida.

A história ensina e alerta.

Na final de 50, éramos considerados superfavoritos. Deu Uruguai.

Em 66, chegamos com a banca de bi e saímos desmoralizados.

Conquistamos três Copas das Confederações, para perder os Mundiais dos anos seguintes.

O Tite sabe muito bem de tudo isso.

O que não é contraditório com a hora de sonhar com o hexa.

Depois do chocolate de 4 a 1 sobre o Uruguai no estádio Centenário, foi a vez de furar um típico ferrolho.

A equipe é muito segura. A despeito de o Firmino não manter o nível do Gabriel Jesus, afastado há semanas.

O Philippe Coutinho fez o primeiro gol, o Neymar o segundo, e o Marcelo o terceiro.

O atacante do Barcelona desperdiçou um pênalti marcado numa das numerosas arrancadas dele driblando paraguaios em série (o árbitro inventou o penal). Tudo bem, saiu na urina.

O Neymar apanhou mais do que cachorro magro. O jogo gravita em torno dele. Tantos o marcam que espaços se abrem para outros brasileiros.

É impossível saber que seleção joga melhor nesses dias. Vi o primeiro tempo da Espanha na vitória contra a França. Os campeões de 2010 voltaram a ser muito competitivos.

Mas ninguém conta, só o Brasil, com o maior trunfo individual dessa hora: o Neymar.

Que o deslumbre que a seleção nos causa não permita que ela se deslumbre.

Se não se deslumbrar, seremos candidatos fortes em 2018.

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Pesadelo de Copa sem Messi ameaça se tornar realidade. Seria triste demais
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Mário Magalhães

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Suspenso por quatro jogos, Lionel Messi desfalcou a seleção argentina – Foto Mike Stobe/AFP

 

A ausência da Argentina da Copa do ano que vem não é prognóstico nem desejo do blog, mas deixou de ser elucubração de livre pensador para se tornar pesadelo. Menos pela seleção, que vem jogando um futebol pequenininho. E sim por Lionel Messi, que em 2018 completará 31 anos.

Os argentinos acabam de perder para a limitadíssima Bolívia por 2 a 0, na desigualdade perversa da altitude. Sem Messi, que horas antes do confronto em La Paz soube que havia sido suspenso por quatro partidas. O motivo foi ter xingado um bandeirinha brasileiro, na vitória sem brilho contra o Chile. Os palavrões não constavam da súmula original, noticiaram. O craque supremo, ainda assim, acabou castigado. Se insultos provocam gancho tão impiedoso, imagino que agressões a jogadores custem muito mais aos agressores. Só que não, pelo menos não sempre. E insinuavam que a Fifa armava para garantir Messi na Rússia…

Antes do revés de hoje, o time que um dia teve César Luis Menotti como técnico já demonstrava desempenho muito diferente com e sem Messi. Na falta dele, abocanhara sete pontos em sete jogos, 33% de aproveitamento. Com ele em campo, 15 pontos em seis jogos, salto para 83% (li no ''Olé''). Dois mundos. Quem tem Messi não fica fora da Copa, era a convicção no fim do ano passado. Sem ele, não dá para assegurar.

O bando treinado (sic) por Edgardo Bauza apareceu hoje desfigurado, devido aos muitos suspensos e contundidos. Mesmo antes, contudo, o coletivo não estava à altura dos talentos individuais. Incluindo Messi, que faz a diferença, mas só quis jogar de fato um tempo contra os chilenos. No outro, ficou paradão, com ares de aborrecido.

Quase tocando o céu, as coisas ficaram mais difíceis. Até Di María, o melhor dos visitantes, perdeu gol na cara do goleiro, noutro lance pisou na bola. Oxigênio escasso não é brincadeira. Arce abriu o placar para os donos da casa. Logo a Argentina perdeu Funes Mori, machucado. Marcelo Moreno, nosso velho conhecido, ampliou.

A cartolagem bandida não ajuda a seleção argentina, pelo contrário. A equipe está embolada, entre as que podem se classificar ou não _o Brasil disparou. Uma vaga na repescagem não seria tragédia.

Tragédia seria um Mundial sem Messi. Faltam quatro rodadas das Eliminatórias. O gênio só regressa na última. Está na hora de seus companheiros jogarem por ele. E por quem perde o sono ou se afoga em pesadelos ao pensar em Messi longe da Copa.

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Para entender os ataques de Doria contra Lula e de Ciro contra Moro
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Mário Magalhães

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João Doria, na campanha eleitoral – Foto Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

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Ciro Gomes, em ato em sede do PDT – Foto Alan Marques/Folhapress

 

São mais do que parecem os ataques virulentos de João Doria contra Luiz Inácio Lula da Silva e de Ciro Gomes contra Sergio Moro.

O prefeito atira no ex-presidente, mas seus alvos principais são outros.

O ex-ministro fustiga o juiz, no entanto seu foco está longe do Paraná.

Não que o tucano Doria  não ache que o petista Lula seja ''mentiroso'', ''o maior cara de pau do Brasil'', ''sem vergonha'', como tem dito (além de prometer ''visitá-lo em Curitiba'', com Lula em cana).

Pode até achar, e aqui não se trata do mérito das declarações, e sim dos propósitos.

Doria busca se cacifar como grande antagonista de Lula para derrotar no PSDB os três arraigados pretendentes à Presidência. A impressão no partido é que Aécio Neves e José Serra terão as pretensões frustradas pela Lava Jato. Geraldo Alckmin sairia ferido, porém vivo _não é prognóstico do blog, mas avaliação entre próceres peessedebistas. Portanto, Doria competiria sobretudo com o governador, seu padrinho político. Bate em Lula para crescer na disputa intestina com Alckmin. O prefeito vai virando o porta-voz de segmentos sociais com aversão ao ex-presidente e ao petismo.

Noutro contexto, acontece o mesmo com Ciro Gomes. O pedetista chama Sergio Moro de exibicionista, de autor de decisões contrárias à democracia. Proclama que, se o juiz tentar prendê-lo, receberá ''a turma dele na bala''.

Também não há motivo para supor que o ex-ministro e ex-governador não pense de fato o que fala sobre Moro _despreze-se a bravata da bala, assim como é bravata a eventual visita de Doria a Lula preso.

Mas há um interesse, mais do que complementar, prioritário de Ciro Gomes. O PDT mantém duas convicções: uma nova candidatura de Lula ao Planalto tornaria pouco viável a de Ciro; é provável, na opinião dos pedetistas, que a Justiça impeça Lula de concorrer. Na hipótese de o ex-presidente ficar fora, Ciro ocuparia o seu lugar como o predileto de milhões de eleitores, em especial no Nordeste _é o que consideram seus correligionários. Ainda que o PT encabeçasse chapa própria, não teria um nome com força para sufocar o do antigo governador do Ceará.

Confrontando Moro, Ciro marca pontos com a base lulista que maldiz como injustas e persecutórias as sentenças do juiz contra o ex-presidente. Ciro age para se fortalecer como herdeiro dos votos que não poderiam ser dados a Lula, de quem foi ministro, em caso de barração pela Justiça.

As urnas estão distantes, mas o jogo de 2018 vai sendo jogado.

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Flamengo 2 x 2 Vasco: revolta para muitos, preocupação para todos
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Mário Magalhães

A bola bateu na barriga do Renê, e o apitador marcou pênalti – Imagem reprodução

 

Antes de tudo, uns prolegômenos sobre o 2 a 2 entre Flamengo e Vasco pelo Campeonato Estadual (mas disputado em Brasília). O resultado foi determinado por decisões do Luis Antônio Silva Santos. Os times jogaram assim ou assado, mas o que definiu o empate foi o apitador. Balanços que ignoram os desatinos do veterano que já deveria ter pendurado o apito minimizam o escândalo que foi ao menos uma de suas intervenções.

Ele acertou ao expulsar o Luis Fabiano. O que o desequilibrou não foi o movimento do atacante vascaíno, que o peitou. Peitou não metaforicamente, mas no sentido literal da palavra. Se um jogador recebe o amarelo (justo), parte ensandecido para cima do árbitro e lhe dá uma peitada, quer o quê? Se alguém disser que o Fabuloso (ainda?) não peitou o árbitro, sugiro exame de vista.

Não sei se existiu erro na anulação do gol do Réver. O zagueiro apareceu em posição legal. Avançado estava o Damião, que teria participado da jogada. Fiquei na dúvida. É possível ou provável que meus três irmãos vascaínos considerem que houve banheira (o irmão gremista também, porque a turma anti-rubro-negra não perdoa).

Sobre o lance que sacramentou a igualdade, no ocaso do clássico, inexiste dúvida. O juiz e um bandeirinha inventaram mão ou braço do Renê numa bola que tocou em sua barriga (imagem no alto). O Flamengo jogou mal, eu sei. Mas o empate decorreu de juízo estapafúrdio do apitador.

Prolegômenos para trás, a partida mostrou que ambas as torcidas têm muito com o que se preocupar.

Os cruz-maltinos se superam na garra, o que será insuficiente, embora importante, para um bom Campeonato Brasileiro. Há numerosos veteranos no elenco, o que pode ser trunfo ou desvantagem. O coroa Nenê é o melhor, o Douglas é um garoto que joga demais, mas isso não basta. O coletivo é fraco, sofre para alcançar uma vaga nas semifinais. Melhorará se o Luis Fabiano entender que deve entrar em campo para jogar, e não para reclamar da arbitragem. O Vasco era superior até sua expulsão, no começo do segundo tempo. Ele havia roubado a bola do Réver, sem falta, no primeiro gol. Com sua saída, o cenário mudou. Se o Luis Fabiano mantiver o foco no futebol, a equipe poderá sonhar mais alto.

A preocupação dos rubro-negros deveria ser ainda maior, porque já, já a Libertadores será retomada. É evidente que a falta do Diego (Mancuello não foi um bom cover) e do Guerrero (Damião não esteve à sua altura) pesaram. A do Trauco atrapalhou menos, porque o Renê está bem. Mas as ausências não explicam tudo. O time entrou devagar, como se achasse que a qualquer momento poderia sobrepujar o elenco sabidamente inferior. Foi pior do que o adversário até o vermelho para o Luis Fabiano.  O meio-campo careceu de densidade e criatividade. Quando a armação ofensiva fica nos pés do Vaz e do Márcio Araújo (cuja disposição é admirável), algo está errado. Como contra a Universidad Catolica, chances para assegurar logo a vitória foram desperdiçadas. Faltou punch ontem. Se repetir a atitude contemplativa de parte do jogo, o Flamengo terá gigantescas dificuldades na Libertadores contra o competitivo e muito bem armado Atlético Paranaense.

A revolta com a arbitragem não foi de todos.

Mas a todos não faltam preocupações depois do clássico maculado pelo famigerado apitador.

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A alma do Centenário
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Mário Magalhães

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O esqueleto do estádio Centenário, em Montevidéu; o mais importante é a alma – Foto Folhapress

 

É provável que ao ser construído para a primeira Copa, em 1930, o estádio Centenário espantasse pela grandiosidade. Quase cem mil torcedores chegariam a se espremer na arena do século 20 onde as disputas se dariam sem bigas e lanças, leões e tigres, mas com gladiadores correndo em torno da bola de couro. Hoje cabe menos gente. E o esqueleto deixou de impressionar. Na cancha sagrada de Montevidéu, o que encanta é a alma.

Lá estive pela primeira vez em agosto de 1993, quando as seleções uruguaia e brasileira, mal das pernas, se desesperavam em busca de uma vaga no Mundial do ano seguinte. De cabeça, o Raí marcou para nós. Depois da expulsão do Ricardo Rocha, sobreveio o sufoco, e o Fonseca empatou para eles. O Parreira foi xingado de burro por conterrâneos que haviam atravessado a fronteira. Os matemáticos cravaram em 33% as chances de o escrete ir aos Estados Unidos. No confronto derradeiro, eliminaríamos a celeste no Maracanã, com dois gols do Romário.

O baixote que viria a brilhar no tetra não estava no Centenário naquele 1 a 1. Ele se enfurecera por ficar no banco num amistoso no Beira-Rio, e o Parreira e seu escudeiro Zagallo o barraram. Porém a dupla de ataque era supimpa, Bebeto e Müller. Torcia por eles, só que meu favorito em campo era outro, Enzo Francescoli. Se eu disser que esse uruguaio, meia ou ponta-de-lança, jogava mais do que hoje o Suárez e o Cavani, tem gente que ralhará comigo. Mas jogava. E declarava que se inspirava num brasileiro, um galinho nascido no subúrbio de Quintino.

No Centenário, vê-se o jogo e escuta-se o eco das peleias de outrora. Não tenho idade para ter testemunhado o Obdulio Varela batalhar ali. Nem no Maracanã, onde ele e seus companheiros calaram a multidão na conquista de 50. Quem o viu no épico do Rio foi o jovem Mario Jorge Lobo Zagallo, que estava de uniforme na arquibancada, a serviço da Polícia do Exército. Por décadas vigorou a historieta segundo a qual o uruguaio teria esbofeteado o brasileiro Bigode e cuspido nele. Tudo balela, tempero do complexo de vira-latas que sofreria um abalo em 58. Em 93, tentei conversar com o Obdulio. Sem paciência para me receber em sua casa simples nos arredores da capital, ele topou falar por telefone.

Aos 75 anos, não se interessava mais por futebol. Uruguai e Brasil se reencontrariam. “Não sei desse assunto, não estou a par”, ele deu de ombros. Não se emocionava mais com o esporte em que se consagrou como um gigante? “Isto nunca me toca.” O futebol lhe deixou boas lembranças? “Não tenho boas lembranças.” Deixou-lhe tristezas? “Sim, muitas.” Ao ouvir novas manifestações de desencanto, observei que, pelo visto, o futebol acabara para ele. “Exatamente. Acabou para mim.” Ainda fiz uma pergunta: é bom saber que no Brasil o senhor é um mito? “Não. Desse assunto não quero mais falar.”

E não falamos mais. Cansara-se o guerreiro sobre quem o Nelson Rodrigues escrevera que “extraiu de nós o título como se fosse um dente”. E, mais tarde, ao prever a valentia da seleção comandada pelo João Saldanha, comparara: “O escrete do João terá onze Obdulios”.

Obdulio Varela morreria pobre, ressentido e sem dentes noutro agosto, três anos depois da nossa conversa. Lembrei-me dele à noite, ao me assombrar com a seleção que no Centenário enfiou 4 a 1 nos, como os chamam nas bandas do Sul, castelhanos. Recordei também do que, lá no Uruguai, o Zagallo ensinou sobre medrar ou não diante da torcida local: “Quem ganha no grito é camelô”.

O Centenário não é lugar para fracos, grita sua alma. Ontem os obdulios vestiram a camisa verde e amarela.

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Brasil 4 x 1 Uruguai: é hora de sonhar com o hexa na Rússia
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Mário Magalhães

Paulinho chuta para marcar, no primeiro tempo, no Centenário – Foto Matilde Compodonico/AP

 

O sonho do hexa nasceu em Yokohama, na noite de 30 de junho de 2002. Mal o italiano Pierluigi Collina apitou o fim da decisão da Copa, e a seleção conquistou o penta com dois gols de Ronaldo, o futebol mais vitorioso da história já pensou no próximo desafio. Enquanto Cafu apresentava o Jardim Irene ao planeta, os brasileiros se apressavam a falar do Mundial seguinte.

O sonho do hexa frustrou-se em Frankfurt, em 2006, com um gol de Henry. Hibernou quando fomos estraçalhados quatro anos mais tarde, em Port Elizabeth, pelo Sneijder. Renasceu, e como, até os 7 a 1 no Mineirão que, tamanho o vexame, arrancaram mais gargalhadas do que lágrimas.

Com Dunga de técnico, foi difícil sonhar. Com Tite, não é mais. Os 4 a 1 aplicados hoje no Uruguai, a primeira derrota dos vizinhos no Centenário nestas Eliminatórias, comprovam o que já se insinuava: a seleção está jogando demais. Precisa evoluir. Por exemplo, na organização defensiva em bolas altas. Mas é muito competitiva.

Ninguém vive de esperar o sonho cair do céu. Sonho se constrói. É o que vem ocorrendo. O elenco canarinho é um dos melhores do mundo. Como no teatro, em que os atores crescem ao lado dos gigantes, no futebol os ótimos melhoram ainda mais com os craques. Paulinho, com três gols nesta noite, é um exemplo do ótimo ou muito bom que vai além. Em 2002, muita gente desconfiava de Kleberson, que acabou titular. Paulinho se afirma, contra os céticos. O melhor em campo.

A maior força do time é coletiva. É inegável, contudo, que o esplendor de Neymar tem sido decisivo. Em Montevidéu, ele arrancou com fome de gol e enfileirou adversários. Foi caçado, apanhou. Uruguaios levaram cartões amarelos ao bater nele. Que cobrou falta com perigo. E encobriu Martín Silva no terceiro gol.

O melhor jogador há muitíssimos anos é Messi. No momento, a bola de Neymar está mais redonda que a do gênio argentino. Ninguém joga tanto quanto ele. Mesmo quando não é goleador, atrai a marcação de muitos oponentes. Abre espaços, como no golaço de fora da área de Paulinho, que recebeu sozinho o passe de Neymar.

A matemática informa que o Brasil ainda não está na Copa da Rússia-2018.

Como é burra a matemática.

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Desolação social: índices de qualidade de vida expõem regressão e ruína
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Mário Magalhães

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Adolescente de 13 anos vendedor de balas: trabalho infantil aumenta – Foto Ricardo Borges/Folhapress

 

Até ignorantes em economia entendem que com depressão econômica os empregos escasseiam e dificilmente são recuperados.

Mesmo quem raramente vai ao supermercado _função feminina, predica o ideário presidencial_ percebe que com inflação nas alturas o dinheiro enche cada vez menos as cestas e os carrinhos.

A inflação vem caindo, os números do incremento da produção sorriem com timidez, surge um sopro de esperança de retomada de postos de trabalho.

O que os sábios econômicos compreendem bem, mas muitas vezes não contam, é que o crescimento do bolo não assegura sozinho o bem-estar da maioria dos cidadãos.

No exemplo célebre, no princípio dos anos 1970 o dito milagre econômico turbinava anualmente o PIB em dois dígitos, porém no fim da década a desigualdade superava a do começo.

Uma coisa é o fermento engrandecer o bolo. Outra é reparti-lo com mais gente.

Em contraste com certa excitação com índices recentes da economia, estudos sobre as condições de vida dos brasileiros expõem regressão e devastação.

A novidade menos assustadora também é grave: depois de uma década de ascensão, o Índice de Desenvolvimento Humano estacionou em 2015 no Brasil. As Nações Unidas o determinam com base em desempenho de saúde, escolaridade e renda. Como 2016 foi ainda pior, é provável que o IDH do ano passado não tenha avançado.

Outra notícia desalentadora, da Fundação Abrinq: de 2015 para 2016, o trabalho de crianças de cinco a nove anos ampliou-se em 12,3%. Passou de 69.928 meninas e meninos para 78.527, acréscimo de 8.599. A curva de prosperidade se inverteu. De 2005 a 2013, o trabalho infantil havia despencado 80,6% (de 312.009 crianças para 60.534).

O desemprego disparou, informa o IBGE. No trimestre de novembro de 2016 a janeiro de 2017, a taxa média foi de 12,6%. Alcançou 12,9 milhões de pessoas, numa estimativa conservadora (o cálculo exclui quem não busca nova oportunidade). Foram 879 mil desempregados a mais que no trimestre anterior. É a ruína das famílias mais pobres.

A convicção de que os mais vulneráveis pagam mais pela crise tem lastro nos fatos. A FGV Social descobriu que pela primeira vez , em 22 anos, a ''disparidade da renda domiciliar per capita'' aumentou. Noutras palavras, a desigualdade progrediu, no país já obscenamente desigual. Desde a criação do Plano Real tal retrocesso não acontecia. A renda dos mais pobres diminui sobretudo por causa do desemprego.

Há outros levantamentos desoladores. Toda semana sai um. Como previsto, o arrocho do segundo governo Dilma Rousseff seria lembrado como arrochinho numa administração Michel Temer.

É evidente que as contas públicas exigem equilíbrio. Mas equilíbrio se obtém peitando quem tem mais, e não menos.

A aflição nas camadas sociais mais baixas se agravará se o governo for bem-sucedido nas chamadas reformas trabalhista e previdenciária.

Elas não foram boladas para amenizar o sofrimento dos mais sofridos. Pelo contrário. Se forem aprovadas, retirarão direitos e abolirão conquistas. Mais trabalho precário, menos salário, menos garantias.

E não na Noruega, campeã do IDH.

E sim no 79º colocado, o Brasil, onde o sufoco já é grande.

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O tumor de Crivella e as doenças dos políticos
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Mário Magalhães

A operação de João Baptista Figueiredo, general-presidente, manchete da ''Folha'' em 16.julho.1983

 

Marcelo Crivella confirmou o furo do repórter Lauro Jardim publicado ontem de manhã: o prefeito do Rio tem um tumor minúsculo na próstata. Até segunda ordem, o tratamento prescinde de cirurgia. Não há informação sobre o caráter, maligno ou benigno, do tumor.

Doenças de políticos costumam ser abordadas com pouca ou nenhuma transparência no Brasil, a despeito de exceções. Muitos deles as consideram assunto privado. Enganam-se. Quando ocupam funções públicas, sobretudo os ungidos pelo voto dos cidadãos, devem satisfação sobre as condições de saúde para exercer os cargos que postulam por vontade própria.

Talvez nunca se tenha escondido tanto a enfermidade de um figurão quanto na agonia de Tancredo Neves. Horas antes de tomar posse na Presidência, em março de 1985, o antigo deputado, senador, ministro e primeiro-ministro baixou ao hospital. Alegaram que uma diverticulite o debilitara. Ocultaram a existência de um tumor. Forjaram uma fotografia mostrando Tancredo melhor do que estava. O vice José Sarney assumiu em seu lugar. Durante semanas, o porta-voz de Tancredo divulgava os diagnósticos com o mesmo prólogo: ''Senhores, trago boas notícias''. Em 21 de abril, com a despedida do presidente que só morto subiu a rampa do Palácio do Planalto, o epílogo foi triste.

Tancredo havia sido ministro da Justiça de Getulio Vargas. Ainda hoje sobrevivem controvérsias sobre o distúrbio cardiovascular que em novembro 1955 levou à internação do presidente João Café Filho, o vice que sucedera Getulio depois do suicídio. Na época, os oposicionistas acusaram Café de encenar a doença para facilitar um cambalacho destinado a impedir a posse do presidente sufragado nas urnas, Juscelino Kubitschek. Bambambãs da medicina assinaram laudos sobre o mal do presidente, mas muita gente não acreditou. Café acabou derrubado, e JK assumiu.

O presidente João Goulart, que fora vice de Juscelino, desde cedo sofreu com seu coração. A cardiopatia se manifestou no começo da década de 1960 em viagens à China e ao México. A fragilidade era tamanha que o cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini aconselhou forfait no comício da Central do Brasil, na sexta-feira 13 de março de 1964. Jango ignorou-o, subiu ao palanque e discursou. O segredo era de polichinelo. Em agosto de 1963, o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, agourou numa mensagem reservada: ''Se Deus é realmente brasileiro, o problema cardíaco que acometeu Goulart em 1962 não tardará a se tornar agudo''.

Jango foi deposto em 1964 pelo golpe de Estado que pariu a ditadura de 21 anos. O segundo presidente do novo regime foi o marechal Arthur da Costa e Silva. Em agosto de 1969, o veterano oficial de infantaria sumiu. O governo alardeou que o marechal padecia de uma gripe. A verdade era outra: uma trombose cerebral lhe roubara movimentos do corpo e dificultava a fala. Substituiu-o uma junta militar ridicularizada como ''os três patetas''. Costa e Silva morreu em dezembro.

Não são exclusivos do passado distante os mistérios sobre saúde. Pessoas próximas a dois ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva me confidenciaram que eles enfrentaram câncer de próstata. As intervenções bem-sucedidas a que se submeteram permaneceram em sigilo. Não os nomeio porque nunca chequei com rigor a versão dos amigos dos ministros.

Em outubro de 2011, o ex-presidente Lula viria a ser mais sincero, anunciando que tinha câncer na laringe. Muitos dos médicos que o acompanharam já haviam cuidado de sua sucessora, Dilma Rousseff, quando ela era pré-candidata. Em 25 de abril de 2009, um sábado, os repórteres Mônica Bergamo e Diógenes Campanha revelaram que a ministra Dilma passava por ''tratamento prolongado de saúde'' e que os doutores haviam colocado em seu corpo um cateter característico de ''tratamento quimioterápico''. Horas mais tarde, no hospital Sírio-Libanês, Dilma contou que lutava contra um linfoma.

Em meados de 1983, o general João Baptista Figueiredo preferira cascatear. Na manhã de 22 de junho daquele ano, a ''Folha de S. Paulo'' chegou às bancas com a chamada de primeira página ''Coração de Figueiredo pode exigir cirurgia''. Remetia para a coluna de Janio de Freitas, que abria tonitruante: ''Uma nova manifestação da cardiopatia do general Figueiredo, até agora mantida em sigilo rigoroso do seu circuito mais estreito de relações, está fazendo com que seja cogitada uma cirurgia do presidente, em futuro próximo, para implante de pontes de safena''.

O líder do governo, Nelson Marchezan, negou: ''A saúde do presidente está muito boa''. Peitou os jornalistas que o entrevistavam: ''Será que vocês vão querer que o presidente monte a cavalo todos os dias para provar que está bem de saúde?'' O general Rubem Ludwig, chefe da Casa Militar, pegou mais pesado. Classificou de ''terrorista'' a notícia. O jornalista Carlos Castello Branco, quase sempre bem informado, tropeçou: ''O presidente está bem de saúde''.

Em 15 de julho, duas pontes de safena foram implantadas em Figueiredo, o presidente que dizia preferir o cheiro de cavalo ao de povo. Ainda no leito da clínica de Cleveland, o recém-operado se deixou fotografar. Na edição do dia seguinte, Janio mencionou algumas declarações que haviam desqualificado o seu furo bombástico. Não omitiu os autores. E concluiu, numa tirada antológica do jornalismo: ''Ao general Figueiredo, pronta recuperação. Aos outros citados, também''.

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Promiscuidade: ‘nosso Palocci’ de Odebrecht, ‘grande chefe’ de Serraglio
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Mário Magalhães

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Antonio Palocci, preso em 2016 na 35ª fase da Operação Lava Jato – Foto Giuliano Gomes/Folhapress

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Osmar Serraglio, ministro da Justiça desde fevereiro de 2017 – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Ao depor dias atrás, o empreiteiro Emílio Odebrecht se referiu ao ''nosso Palocci''.

O chefão da Odebrecht falava do petista Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda.

Num diálogo gravado com autorização judicial e revelado na semana passada, o peemedebista Osmar Serraglio tratou o interlocutor como ''grande chefe''.

O ministro da Justiça conversava, quando exercia mandato de deputado federal, com um fiscal agropecuário suspeito de comandar organização criminosa que permitia venda de carne imprópria para consumo.

Para além da prisão de Palocci, na operação Lava Jato, e da menção a Serraglio na operação Carne Fraca, sobressai a promiscuidade entre gestores públicos e figurão de empresa corruptora ou funcionário alegadamente corrupto.

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Gandulas cochilam e clássico recomeça sem eles
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Mário Magalhães

Nem 10 mil pessoas assistiram no estádio Nilton Santos ao clássico de muita garra e pouca técnica

 

São numerosos os episódios e as imagens que documentam o empenho da cartolagem para arruinar o campeonato do Rio, uma das mais relevantes e tradicionais instituições do futebol nacional.

Ontem mesmo, o Nilton Santos vazio foi de doer.

Pouco mais de 8 mil pessoas pagaram para ver Vasco x Botafogo, e nem 10 mil entraram no estádio.

O clássico não foi ruim, a despeito da técnica pouca e do zero a zero, porque foi disputado com garra de sobra.

Mas público diminuto não é novidade na competição distante dos dias de glória.

O inusitado foi, no princípio do segundo tempo, a partida recomeçar sem gandulas.

De acordo com o pessoal do SportTV, eles disseram que regressaram atrasados porque não haviam sido avisados sobre o reinício do jogo.

Pastelão no Engenhão.

Como cantou o Cartola, rir pra não chorar.

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