O horror retrata a alma: estamos todos nus
Mário Magalhães
Há quem se horrorize com o protesto das senadoras que se sentaram nas cadeiras dos capi do Senado no dia da votação da reforma dita trabalhista.
Mas há quem se horrorize com a subtração de direitos e conquistas dos trabalhadores no país de desigualdade obscena _uma das dez maiores do planeta, de acordo com estudo da ONU publicado neste ano.
Há quem desqualifique como ridícula a ocupação da mesa do plenário pelas senadoras Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Katia Abreu, Lídice da Mata, Regina Souza e Vanessa Graziotin.
Mas há quem considere ridícula a denúncia do senador José Medeiros, ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, contra as senadoras. Porque o conselho que livrou o senador Aécio de Neves de punição não pode ser batizado com a palavra ética.
Há quem endosse esta declaração do presidente do Senado, Eunício Oliveira, sobre o episódio de ontem: ''É a desmoralização da Casa''.
Mas há quem pense que o que desmoraliza o Senado são fatos como a presidência ser entregue a gente como Eunício, identificado como o ''Índio'' na célebre planilha da Odebrecht.
Há quem acompanhe Michel Temer em seu aplauso às mudanças na CLT: ''Essa aprovação definitiva é uma vitória do Brasil na luta contra o desemprego e na construção de um país mais competitivo''.
Mas há quem acredite no diagnóstico da Organização Internacional do Trabalho, segundo a qual a dita reforma viola convenções internacionais de que o Brasil é signatário.
Opinião é opinião, cada cabeça uma sentença.
Ninguém é filho de chocadeira, dizia o João Saldanha.
Cada um se horroriza com o que quer.
O horror retrata a alma, radiografa a cabeça e desvenda o coração.
Estamos todos nus.