A vertigem das surpresas hipócritas
Mário Magalhães
Depois do que Romero Jucá falou sobre ''estancar essa sangria'', ainda há quem se diga surpreendido por resultado de julgamento em tribunal.
Pelas tramoias de Michel Temer e seus correligionários.
Pelos feitos de Aécio Neves, ''o primeiro a ser comido''.
Pela ficha criminal de Sérgio Cabral, um dos donos do poder mais bajulados pelo jornalismo brasileiro no século 21.
Pelo desastre multiplicado por seu sucessor, Luiz Fernando Pezão, que os áulicos celebravam como ''o verdadeiro gestor'' do Estado do Rio de Janeiro.
Depois de tudo o que se soube das armações de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, alguns afetam surpresa com a conta suíça não declarada de Guido Mantega ou sua presença na delação de Joesley Batista.
No romance ''A mancha humana'', Philip Roth se refere à ''vertigem da indignação hipócrita'' como talvez a mais antiga paixão dos Estados Unidos (essa é a formulação da tradução francesa para o original ''the ecstasy of sanctimony''). O escritor falava do escândalo da fellatio na Casa Branca dos tempos de Bill Clinton e Monica Lewinski.
A vertigem da indignação hipócrita também habita o Brasil.
Mas dificilmente será maior do que a vertigem das surpresas hipócritas, fingidas, encenadas.