Blog do Mario Magalhaes

Temer, o ‘decorativo’: Carta mais ridícula da República faz um ano e meio

Mário Magalhães

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Dilma Rousseff e Michel Temer, o vice missivista – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

Na semana em que a Justiça Eleitoral retoma o julgamento da validade da eleição de Dilma Rousseff e Michel Temer, completa um ano e meio a carta de queixumes do então vice à então presidente.

A correspondência de 7 de dezembro de 2015 consagrou-se como a mais ridícula da história da República, até onde a memória alcança. Nem os bilhetinhos seriais que o presidente Jânio Quadros remetia aos subordinados eram tão grotescos.

O amuado Temer enumerou lamúrias. Mais do que um anão político melindrado, expôs seu tamanho existencial.

O pobre coitado caricatural que o missivista busca encarnar logra um feito: é razoável considerar Dilma besta ou bestial, isso ou aquilo, mas fica difícil ao olhar retrospectivo não compreender receios que ela demonstrava e provocaram o chororô do vice chorão.

''Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo'', Temer magoou-se.

E proclamou, com a sinceridade de correligionário de Eduardo Cunha: ''Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos''.

Temer, o leal, suscetibilizou-se: ''Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB''.

Com o que se sabe em junho de 2017, a desconfiança era pouca.

Mostrou-se fiel, não propriamente à presidente constitucional, mas aos sócios políticos: ''A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone''.

Não foi somente o descaso com Moreira que abalou o coração do remetente: ''No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o ministério em razão de muitas 'desfeitas', culminando com o que o governo fez a ele, ministro, retirando, sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, ministro da área, indicara para a Anac''.

Dilma, a insensível, machucara os sentimentos do companheiro de chapa: ''Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o vice-presidente Joe Biden _com quem construí boa amizade_ sem convidar-me, o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que, numa reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente?''

A presidente não pensou no Brasil: ''Até o programa 'Uma Ponte para o Futuro', aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal''.

O amigo do vice de Obama confundiu o conjunto da sociedade com, suas referências, o jornalismo propagandístico (contradição em termos) e o patronato mais endinheirado. O programa peemedebista contribuiu _contribui, pois está em vigor_ para piorar ainda mais a vida da maioria dos brasileiros.

O desabafo derradeiro: ''Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã''.

O tempo mostrou que era para confiar?

Michel Temer, o autor da cartinha ressentida, é hoje o presidente do Brasil.

(P.S.: para ler a íntegra da carta de Temer a Dilma, basta clicar aqui.)

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