Blog do Mario Magalhaes

Ruas decidirão desfecho da crise; #DiretasJá são melhor saída para o Brasil

Mário Magalhães

Campanha das Diretas, 1984, em foto de Gil Passarelli: hora de esquentar de novo os tamborins

 

A nota de Michel Temer divulgada ontem à noite é tão clara quanto cínica: se depender da vontade do presidente, não haverá renúncia.

O consórcio que o instalou no Planalto implodiu. Há segmentos convencidos de que o melhor para os seus interesses é manter o marido de Marcela encabeçando o governo. Impopularidade por impopularidade, Temer já é rejeitado pela esmagadora maioria dos brasileiros.

Outros sócios da aventura temerista e temerária preferem o afastamento, por renúncia ou impeachment, sempre a toque de caixa. A continuidade de Temer nutre o risco de caos e descortina o imprevisível. Conspiram para entregar a Presidência a próceres da política, como o ex-ministro Nelson Jobim, ou do Judiciário, como a ministra Cármen Lúcia.

Numa opção ou na outra, a saída para a crise seria por cima. Isto é, desprezando o pronunciamento soberano do conjunto dos cidadãos.

Como sabem até as formigas lá de casa, tão vorazes que atacam também comida salgada, a crise agravou-se dramaticamente com gravações escondidas feitas pelo empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS. O furo jornalístico sobre o áudio das conversas foi do repórter Lauro Jardim.

De acordo com a reportagem, cujo conteúdo foi mais tarde confirmado por outras apurações, Michel Temer aprovou o pagamento mensal de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro. Ambos estão em cana. O propósito da mesada seria comprar o silêncio dos dois presidiários. ''Tem que manter isso, viu'', teria dito o presidente.

Se a perícia confirmar que a voz é de Temer, eis o que se chama de prova, e não especulação, suposição ou mesmo indício. O presidente também teria encaminhado Batista, para tratar de assunto de interesse da JBS, a um deputado. A Polícia Federal teria filmado a entrega de R$ 500 mil ao eminente parlamentar.

A propósito: chama a atenção como, ao contrário do que ocorreu noutros episódios, demora o vazamento ou divulgação de áudio e imagens.

Caducou a controvérsia legal e política sobre processo contra Temer por atos cometidos quando ainda não exercia a Presidência. A gravação _e a eventual obstrução de Justiça_ seria de março de 2017.

O microfone de Batista também teria captado na moita pedido de R$ 2 milhões de agrado, feito por Aécio Neves. O STF afastou o tucano do Senado. Também teria sido filmada a entrega de dinheiro a alegado representante do neto de Tancredo Neves (que, esteja onde estiver, não tem nada a ver com isso). Andrea Neves, irmã e operadora de Aécio, está presa.

Se não houver barulho nas ruas, o desenlace da agonia de Temer será definido sem consulta aos eleitores. Só o rugido popular poderá impor o procedimento democrático elementar das eleições. Na democracia, presidente se elege nas urnas.

Há um sem-número de procedimentos constitucionais para antecipar o certame presidencial previsto para o terceiro trimestre de 2018. O Congresso evidenciou, afoito pelas ditas reformas que sacrificam os mais pobres e vulneráveis, que é capaz de ser célere quando quer.

A melhor solução para a crise será aquela que os cidadãos determinarem em eleição.

Michel Temer já era ilegítimo ao assumir. Agora, é muito mais.

Nenhum malabarismo retórico, em nome da ''responsabilidade institucional'', será convincente ao pregar a exclusão dos brasileiros na escolha do governante.

Irresponsabilidade é entregar o destino nacional a quem carece de legitimidade para isso.

O melhor para o país são diretas já.

Que só virão com as ruas ocupadas por muita gente.

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