Monteiro, Curitiba e a dialética de 2018
Mário Magalhães
No futuro, quando se contar a história da eleição presidencial do ano que vem, será impossível ignorar o dia 19 de março de 2017.
Em Monteiro, na Paraíba, milhares de pessoas ovacionaram Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente participou da ''inauguração popular'' de trecho da obra de transposição do rio São Francisco.
Em Curitiba, no mesmo domingo, o juiz Sergio Moro divulgou vídeo em que agradece o ''apoio da grande maioria, talvez a totalidade, da população para esses trabalhos que vêm sendo realizados na assim chamada operação Lava Jato''.
Lula é réu em processos da Lava Jato.
Será julgado por Moro.
O petista é até agora o único candidato forte do seu partido para a disputa de 2018. A depender do acúmulo de decisões judiciais, pode ser impedido de concorrer.
Se Moro condená-lo, abrirá o caminho para barrar a candidatura de Lula, o líder das pesquisas de intenção de voto.
Lula é político, mas ao mobilizar multidão em praça pública não deixa de ser o réu ameaçado por Moro. Afastá-lo da eleição seria ''um segundo golpe'', discursou ao lado de Lula a ex-presidente Dilma Rousseff.
Moro é magistrado, mas se comporta igualmente como político. Pretextou o aniversário de página do Facebook simpática a ele para se pronunciar no dia em que Lula demonstrou popularidade. A propósito: se a Lava Jato não fosse popular (é evidente que a operação é), as sentenças deveriam ser diferentes das que Moro tem assinado?
Lula mostrou cacife.
Sergio Moro, a seu modo, respondeu.
O jogo é judicial e político.
Quem decide, no processo, é o juiz.
Sergio Moro milita na primeira instância.
Lula ficará inelegível se for condenado também em segunda instância.