O fantasma da decadência de Messi e a ascensão de Neymar
Mário Magalhães
Olhando os números, soa a insensatez falar em decadência de Lionel Messi.
Ele é o artilheiro da Champions, com 11 gols.
Também lidera a tabela de goleadores da Liga da Espanha, com 23.
Aferiram velocidade máxima do argentino em 31 km/h na competição maior europeia.
Neymar, quase cinco anos mais jovem, superou-o por pouco, 32 km/h.
Messi é o melhor jogador que eu vi nos campos (Zico é hors-concours).
Mesmo trintão, daqui a três meses, ainda encantará com jogadas e atuações geniais, decidirá partidas, será determinante para o Barcelona acumular canecos _a seleção argentina são outros quinhentos.
A despeito de tudo isso, a impressão é que Lionel Messi é um jogador decadente.
Não deixará de ser craque, o gigante de 1,69 metro de altura. Não se tornará um joão, um perna de pau.
Mas o seu auge parece ter passado.
As duas partidas mais recentes reforçam a desconfiança de meses.
Nos 6 a 1 contra o PSG que entraram para a eternidade, o camisa 10 não foi tão mal quanto alguns comentaram.
Converteu o pênalti que lhe coube.
Quem lançou Suárez no lance em que o árbitro assinalou penal, e Neymar cobrou?
Messi, sim senhor.
No entanto, ao contrário do que costumava acontecer, ele deixou de ser o protagonista da façanha.
Esse lugar coube a Neymar.
Na derrota de ontem para o Deportivo La Coruña, 1 a 2, o argentino teve um dos piores desempenhos de sua longeva carreira.
Não errou somente os passes mais arriscados e sofisticados, que resultam em perigo grave ao oponente, mas até toquinho para o lado.
O brasileiro não jogou. Fez falta.
Na Catalunha, já falam em Neymardependência.
Isso que ele soma apenas 4 gols na Champions e 8 no Espanhol.
Atropela Messi em passes para gols: 8 a 2 na Champions e 8 a 7 no campeonato nacional.
Com talento assombroso em quase todos os fundamentos, Neymar tem nas finalizações sua maior deficiência técnica.
Talvez Messi tenha sido prejudicado na quarta-feira e no domingo por ter atuado muito no centro do ataque e da intermediária do adversário. Aquele setor engarrafou, ele se perdeu.
Aparenta cansaço.
Embora se movimente, sempre teve uma referência de posição original. Esteve na ponta direita, transformou-se em falso 9, regressou para o flanco.
Agora, tem oscilado entre o ataque e o meio, longe das linhas laterais.
É possível que, como noutras vezes, saiba se reinventar para render mais.
Messi parece ter consciência da ascensão de Neymar. Entregou-lhe a bola para cobrar um pênalti, contra o clube francês.
Se o craque supremo não mudou, recuperar o brilho constante, e não ciclotímico, será o desafio que o moverá.
O ser humano é movido a desafios.
Messi, muito mais.
Quando o técnico francês Raymond Domenech blasfema, dizendo que o argentino acabou para o futebol, está, sem querer, incentivando-o.
Mesmo que o ápice tenha ficado para trás.
E que talvez esteja principiando a era Neymar no Barcelona.