Tratar ideias de Temer como gafes suaviza preconceito, machismo e atraso
Mário Magalhães
Gafe, ensina o ''Houaiss'', significa ''ato e/ou palavra impensada, indiscreta, desastrada; indiscrição involuntária''.
Quem disse que as declarações de Michel Temer no Dia Internacional da Mulher foram impensadas ou indiscretas?
Indiscrições involuntárias? Fala sério.
Talvez tenham sido desastradas, mas esse é o aspecto menos relevante da pregação presidencial.
O discurso se concentrou no papel da mulher ''na casa'', ''no lar'', na criação dos filhos, no monitoramento dos ''preços em supermercados''. Caberia a elas ''cuidar dos afazeres domésticos''. E por aí afora.
Não é gafe, mas convicção.
Gafe, no duro, é um prefeito comparecer à festa de aniversário de um clube de futebol e rememorar com deleite seus tempos de torcedor organizado do rival supremo da agremiação anfitriã do convescote.
Gafe é lamber um chicabom em reunião dos vigilantes do peso.
Ou levar a mulher para assistir a ''Quatro casamentos e um funeral'' dias depois de o pai dela morrer (esse episódio aconteceu de verdade).
Qualificar as palavras de Temer como gafe é suavizar o preconceito que elas expressam.
É condescender com o machismo.
É transigir com o atraso.
Porque a cabeça do presidente não está no século 20.
Ela é pré-fim do século 19.
Não há gafe, e sim princípios.
Ou não foi Michel Temer quem montou seu ministério original sem uma só mulher?