Em meio a boatos sobre PMs, governo do Rio asfixia e humilha universidades
Mário Magalhães
Em meio à boataria sobre a iminência de um movimento de policiais militares semelhante ao do Espírito Santo, o governo do Rio de Janeiro mantém o desprezo que arruína as universidades estaduais. São falsos os ''documentos'' atribuídos ao comando da PM sobre paralisação, difundidos sem checagem e com leviandade. É verdadeira a asfixia da Uerj, da Uenf e da Uezo, que nem começaram o período letivo de 2017.
O lixo se acumula na Uerj. Inexiste segurança. E bandejão. São limitadíssimos os recursos para pesquisa. Os salários estão atrasados. Nem o 13º do ano passado foi honrado. Não há material. O programa de cotas não tem garantias. Os leitos do hospital Pedro Ernesto foram reduzidos. A volta às aulas já foi adiada quatro vezes. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro luta contra o abandono que ameaça matá-la.
A excelência acadêmica da Uerj é tamanha que nos últimos tempos três docentes do curso de direito foram _dois ainda são_ ministros do Supremo Tribunal Federal. Seu projeto de cotas é pioneiro e exemplar. O curso de medicina, referência. Idem o de letras e muitos outros. É unidade da Uerj a Escola Superior de Desenho Industrial, patrimônio do Rio e do Brasil.
Enquanto a Uerj não recebe as verbas de custeio desde agosto de 2016, a Universidade Estadual do Norte Fluminense não vê a cor desse dinheiro desde outubro de 2015. Os bravos professores e funcionários que, mesmo sem salário, não deixam de ir à universidade em Campos para manter suas pesquisas têm de partir no fim da tarde porque o serviço de segurança foi interrompido e o perigo ronda. A Uenf foi criada pela Constituinte estadual de 1989 a partir de emenda popular. Idealizada por Darcy Ribeiro, não é estruturada em torno de departamentos, mas de laboratórios _um arrojo institucional e acadêmico. Cem por cento dos seus docentes possuem título de doutor. O recomeço das aulas ficou para março.
O descaso, quase aversão, do governo pela Uenf é tamanho que ele a omite numa lista de universidades públicas existentes no Estado.
A Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste também é ignorada na lista. Foi tal a precariedade no ano passado que a Uezo ainda está no ano letivo de 2016. Faltam-lhe recursos para funcionar em 2017. Hoje de manhã seu site estava fora do ar.
Um dos aspectos mais obscenos do aniquilamento das universidades é que aparentemente o governo Luiz Fernando Pezão não se incomoda com a agonia. Humilha-as. Parece repulsa a ensino, ciência, tecnologia, cultura.
O governo demonstra aversão por cultura. A secretária de Cultura, quadro do setor, acaba de ser substituída por um deputado do PMDB que sabe tanto de cultura quanto eu de física quântica.
Num crime aberrante, o Estado fechou as bibliotecas-parque na avenida Presidente Vargas, na Rocinha e em Manguinhos.
Castiga o presente, sacrifica o futuro, sobretudo dos mais pobres.
Pezão, até onde se sabe, não tomou uma só iniciativa para recuperar a bolada roubada _de acordo com procuradores da República_ por seu antecessor e padrinho Sérgio Cabral.
Pezão, por tanto tempo bajulado como ''grande administrador'', ''o gestor que toca o Estado''.
É pau, é pedra, é o fim do caminho. As águas de março vêm aí.