Crivella brinca de ‘pós-verdade’
Mário Magalhães
A história é tão curta quanto eloquente.
A Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro tinha novo titular, anunciado pelo governo Marcelo Crivella: Paulo Cezar Ribeiro, professor da Coppe/UFRJ.
Ao lado do vice-prefeito e secretário de Transportes, Fernando Mac Dowell, o professor deu entrevistas, foi à TV contar seus planos.
Na quarta-feira, o ''Diário Oficial'' do município, em vez de nomear Paulo Cezar Ribeiro presidente da CET-Rio, nomeou Virgínia Maria Salerno Soares.
Ribeiro, que não é leitor do ''Diário Oficial'', soube da novidade por um repórter do jornal ''O Globo''.
Crivella explicou anteontem, compungido, o motivo da mudança: ''Paulo Cezar, infelizmente, foi diagnosticado com uma doença grave. Ele pediu para se afastar e ser tratado''.
Ribeiro tomou um susto. Não havia sido diagnosticado com doença grave, muito menos pedira para se afastar.
Ontem, o prefeito emendou, dizendo que confundira Ribeiro com uma servidora da Rioluz. Atacou um ''repórter, talvez imaturo'', que o indagara sobre a Cet-Rio. ''Eu pedi a esse repórter, porque era uma questão pessoal, de foro íntimo, de caso grave, que ele não mencionasse. Mas, infelizmente, isso foi vencido por ambições pessoais que eu acho que não constroem o relacionamento nosso com a imprensa. A gente, quando fala de doenças graves, essas coisas são particulares.''
Como comprova o vídeo da quarta-feira, quem falou em doença grave, diante de numerosos repórteres, foi Crivella.
''Não houve mentira nenhuma. Houve uma pequena confusão'', afirmou mais tarde o prefeito.
Pelo visto, ele parece brincar de ''pós-verdade''. Uma coisa é o discurso, outra é o fato.
Sobre a troca, uma das versões informa que haveria problema para Ribeiro manter na CET-Rio o salário que recebe na universidade.
Fato: na terça-feira, a CET-Rio, onde Ribeiro já estava trabalhando informalmente, multou mais de 90 ônibus em torno da Central do Brasil.