Blog do Mario Magalhaes

A lição do herói Luiz Carlos Ruas: coragem é enfrentar os mais fortes

Mário Magalhães

Luiz Carlos Ruas, o Índio: um herói brasileiro – Foto arquivo pessoal/reprodução UOL

Foto mostra momento em que os dois suspeitos agridem o ambulante dentro da estação do Metrô

Luiz Carlos Ruas é espancado até a morte no domingo de Natal – Foto reprodução TV Globo

 

''Não me venham com besteiras de dizer que herói não existe'', escreveu Lourenço Diaferia em 1977. O cronista reverenciava o sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que aos 33 anos dera sua vida para salvar a de um menino de 14. O garoto caíra no poço das ariranhas num zoológico, e Sílvio se atirou para salvá-lo. Salvou-o, mas foi trucidado pelos animais carnívoros. Diaferia (1933-2008) diferenciou o sargento da estátua do duque de Caxias: ''O povo urina nos heróis de pedestal''. Vigorava a ditadura, e o escriba acabou em cana.

A tragédia com o vendedor de doces Luiz Carlos Ruas fez lembrar a crônica clássica do Diaferia, ''Herói. Morto. Nós.''  Aos 54 anos, o trabalhador foi espancado até a morte no domingo de Natal. Índio, seu apelido, defendera duas travestis que apanhavam de dois homens. Uma delas é conhecida como Brasil. Numa estação do metrô de São Paulo, os covardes se voltaram para Luiz Carlos e o socaram e chutaram sem dó.

Mesmo em tempo de desesperança, resta sempre alguma esperança. Ou, como escreveu o Renato Russo, quando tudo está perdido, sempre existe uma luz. No ano sombrio de 2016, essa flama se chama Luiz Carlos Ruas. É claro que herói existe, como sabia o Lourenço Diaferia.

Das lições do gesto generoso do cinquentão que ralava desde os nove anos, talvez a mais pungente seja a de que coragem não é castigar os mais fracos, mas enfrentar os mais fortes.

Em meio a tanta covardia, a coragem do Índio que saiu em defesa da Brasil e sua amiga mostra que, de fato, sempre existe uma luz.

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