Blog do Mario Magalhaes

Tudo é história (e presente): ‘O povo tá a fim da cabeça do Delfim’

Mário Magalhães

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Michel Temer, Romero Jucá e Delfim Netto – Foto Fabio Braga/Folhapress

 

O nome de Wellington Moreira Franco, secretário com poderes de superministro, é mencionado 34 vezes no acordo de delação de Cláudio Melo Filho, ex-chefão da Odebrecht.

O de Michel Temer, 43.

O ex-ministro Geddel Vieira Lima caiu devido a maquinações para erguer um espigão em área de Salvador onde prédios excessivamente altos são vetados.

Michel Temer aparece no listão de Melo Filho como agenciador de R$ 10 milhões de propina da Odebrecht para o PMDB.

O senador Romero Jucá é o autor do enunciado ''estancar essa sangria''.

Temer materializa a Lei Jucá _noutras palavras, a impunidade.

O antigo executivo da Odebrecht qualificou o ministro Eliseu Padilha como ''arrecadador''.

De acordo com mensagem do deputado Eduardo Cunha, Temer arrecadou R$ 5 milhões do dono da construtora OAS.

Moreira Franco e Eliseu Padilha balançam, mas até agora não caíram.

Jucá, o ''Caju'' da relação da Odebrecht, caiu, mas para cima: virou líder do governo no Congresso.

Muso do impeachment que permitiu a Temer ser presidente, Cunha amarga uma temporada em cana.

E Temer vai gerenciando escândalos e rolos por meio do descarte de ministros. Geddel foi o sexto, em seis meses de administração.

O problema, para Temer e sobretudo para o Brasil, é que os ministros não são o principal problema.

Henrique Meirelles castiga com seus pacotes de perversidades os brasileiros mais pobres.

Mas quem autoriza essas maldades é Temer.

Moreira e Padilha foram alvejados pelas revelações da Lava Jato.

Quem os mantém é Temer, igualmente ferido.

Não é com a saída de ministros que o governo se cobrirá de legitimidade.

Não que não mereçam sair, mas Temer é presidente ilegítimo desde o nascedouro.

Pode trocar mil vezes o Ministério que não se tornará governante legítimo.

A pregação pelo afastamento de determinados ministros, como se a mudança pudesse conferir legitimidade a Michel Temer, evoca uma era distante.

Na primeira metade da década de 1980, Delfim Netto era ministro do derradeiro governo da ditadura.

Nas ruas, manifestantes se esgoelavam com a palavra de ordem ''Abaixo a ditadura'' (e variações, como uma importada da Argentina: ''Vai acabar/ Vai acabar/ A ditadura militar'').

Um grupo, contudo, não gritava pelo fim da ditadura. Preferia ''O povo tá a fim/ Da cabeça do Delfim''.

Titular do Planejamento, Delfim Netto simbolizava a desastrosa condução da economia no governo do ditador Figueiredo. As condições de vida definhavam.

Acontece que, mesmo que Delfim fosse para o olho da rua, a essência da ditadura não mudaria. Continuaria a ser o que era.

Noutra quadra histórica, hoje se passa algo semelhante: os ministros são consequência de decisões do presidente; ainda que um parta e outro chegue, o governo não superará seu pecado original, a ilegitimidade.

Em tempo: Delfim permaneceu no governo, e a ditadura terminou em 1985.

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