Blog do Mario Magalhaes

Guerra na coalizão do impeachment aumenta incerteza sobre sucessão de Temer

Mário Magalhães

laerte bode

O anjo salvador virou bode expiatório; por Laerte, ''Folha'', 06.dez.2016

 

A balbúrdia institucional formou-se com elementos diversos. Poucos contribuem tanto para o flerte com o caos quanto a implosão da coalizão que depôs Dilma Rousseff.

Beneficiário e incitador da queda da presidente constitucional, Michel Temer foi a aposta que reuniu os acionistas mais graúdos do impeachment. Muitos deles agora conspiram sem pudores contra o missivista, mimetizando seu comportamento contra a destinatária de sua célebre cartinha amuada.

O anjo salvador transfigurou-se em bode expiatório, para empregar as imagens de Laerte hoje na ''Folha''.

Não foi só Temer. Henrique Meirelles, ungido pela entidade ''mercado'' como avalista da patota do PMDB que tomou o Planalto, de esperança virou frustração e alvo. Patrocinado pelo PSDB e outros sócios, Armínio Fraga surge no retrovisor do ministro da Fazenda, ameaçando atropelá-lo.

No clube do impeachment, uns se queixam de timidez dos ajustes _leia-se arrocho. Outros se ressentem do prolongamento da depressão econômica, agravada pelos ajustes.

Não se entendem sobre as medidas contra a corrupção que tramitam no Congresso. De um lado, as trincheiras bradam por punição aos larápios. De outro, ecoa o desespero para ''estancar essa sangria''.

Muitos mantêm o discurso pré-impeachment sustentando as ações e decisões da Justiça. Alguns trocaram a pregação de todo poder ao Judiciário por senões que decorrem de legítima preocupação com o equilíbrio entre os Poderes ou, está na cara, do medo de chegar a hora de prestar contas nos tribunais.

O que era ponte para o futuro acabou retratado como pinguela. Sob certos olhares, até a pinguela ruiu.

O asfalto assistiu ao distanciamento dos aliados de ontem. No domingo, boa parte dos que haviam saído às ruas se esgoelando por ''Fora, Dilma'' recusou-se a sair de casa ou preferiu o lazer. No Rio, quem esteve na avenida Atlântica ouviu a ovação ao nome do deputado Jair Bolsonaro e vaias aos dos deputados Jean Wyllys e Alessandro Molon.

As delações de donos e executivos de empreiteiras e os acordos de leniência das empresas prometem arrastar figurões da campanha pró-impeachment para as mesmas cadeias onde próceres petistas cumprem pena.

O Tribunal Superior Eleitoral é outro espectro a assustar as pretensões de Temer de alcançar o fim de 2018 no cargo.

Na origem das incertezas está o afastamento de Dilma. Se a governante _pelo que se sabe até agora_ honesta pode receber cartão vermelho, por que não os mandachuvas sobre os quais pesam suspeitas e acusações que se contam aos milhões de reais e dólares?

Em 1964, desfecharam o golpe de Estado também com a alegação de garantir a eleição presidencial do ano seguinte. Logo adiaram a eleição para 1966. Em seguida, extinguiram o voto direto para o Planalto.

Quando Dilma iniciou o (desastroso) segundo mandato, previa-se que seu sucessor assumisse no princípio de 2019. Era a regra do jogo. Ignoraram o calendário, e o golpista Temer a substituiu em 2016. Supunha-se que o marido da primeira-dama bela e recatada daria lugar ao novo presidente em 2019. Ninguém sabe se isso ocorrerá ou se o peemedebista será derrubado, para outro presidente sem voto popular governar até 2018.

Ou, o que seria a melhor hipótese, a eleição direta ser antecipada.

Porque, não custa repetir, na democracia presidente se elege no voto.

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