Bate-bocas de comentaristas da CNN contrastam com jograis na TV brasileira
Mário Magalhães
A despeito da indigência política e existencial dos dois candidatos mais fortes à Casa Branca, tem sido um bálsamo acompanhar a campanha eleitoral norte-americana. O mérito é da CNN.
A escalação de analistas da emissora preza a inteligência do espectador, em vez de menosprezá-la.
Qualquer criancinha dos Estados Unidos sabe que a Cable News Network se inclina pelos democratas, logo por Hillary Clinton, e não por Donald Trump.
Tal preferência não impede a presença de comentaristas com ideias divergentes.
As bancadas são compostas por homens e mulheres, brancos e negros, cacholas em desacordo, uma saudável miscelânea.
É possível conhecer os pontos de vista de quem é mais à direita, à esquerda, ao centro.
E o pau come, com bate-bocas muitas vezes de alto nível _não foi o caso da desinteligência recente entre Jeffrey Lord, pró-Trump, e Van Jones, pró-Hillary. Lord disse que o grupo racista Ku Klux Klan é ''esquerdista'', uma tolice que até figurões direitistas dos EUA rejeitaram.
Mas a escolha de analistas como eles retrata o espírito da casa. Lord trabalhou no governo do republicano Ronald Reagan. Jones, no do democrata Barack Obama.
Ao apresentar os comentaristas, a CNN não omite seus históricos, vendendo-os como ''imparciais''.
Um dos mais brilhantes da mesa é David Gergen, veterano que assessorou numerosos presidentes, de Richard Nixon a Bill Clinton.
O modelo tem sido bem sucedido em audiência em 2016.
A palavra plural da CNN contrasta com o padrão brasileiro _com exceções. Aqui, por mais comentaristas e analistas em ação nas emissoras, eles costumam dizer coisas parecidas, como num jogral, difundindo pensamento único.
A CNN estimula a reflexão, ajuda o cidadão a formar seu próprio juízo.
No Brasil, parecem querer fazer cabeças, sufocam a divergência.
Lá, vigora o confronto de opiniões.
Aqui, ouve-se uma só opinião, pronunciada por várias vozes.