Tomara que a campanha do 2º turno no Rio também discuta temas nacionais
Mário Magalhães
O Rio não é Pindamonhangaba, cidade paulista de nome tão belo.
O Rio colecionou governantes, bons ou maus, que não olhavam só até o umbigo, ou as divisas do município, mas ao menos até as fronteiras do Brasil.
Gente que tinha o que dizer e dizia, como Pedro Ernesto, Carlos Lacerda, Negrão de Lima, Saturnino Braga, Cesar Maia e muitos outros.
Gente avessa à cabeça de província _e nada contra a província, morei numa e voltaria a morar com prazer, porém não foi esse o destino das terras cariocas.
Por conta de querelas nacionais, Pedro Ernesto, prefeito do então Distrito Federal, acabou em cana.
Governador da cidade-Estado da Guanabara, Lacerda encontrava tempo para enumerar as virtudes então conhecidas da energia nuclear, que ele pretendia implantar no país (com fins pacíficos), avacalhar a União Soviética e vituperar a aventura dos Estados Unidos no Vietnã.
O motivo desse nariz de cera são os apelos reiterados, de todos os lados, para que Marcelo Crivella e Marcelo Freixo tratem apenas de questões municipais na campanha do segundo turno.
É claro como um céu de Monet, apesar das nuvens, que os candidatos devem se preocupar mais com a cidade e com suas propostas para melhorar a vida dos cidadãos.
Eles apresentaram programas, e vale a pena ler e ouvir o que sugerem.
Mas eliminar do debate as ideias e atitudes dos dois em relação aos grandes temas brasileiros é supor que o alcaide do Rio tem responsabilidades do tamanho das de um prefeito de pequena localidade.
Para ficar num exemplo, observe-se a relação de ambos com os três presidentes da República mais recentes.
Como senador, Crivella integrou a base de Lula e por ele foi apoiado na candidatura fracassada a governador em 2006. Foi ministro de Dilma, mas votou a favor do impeachment da presidente. Crivella é da base do governo Temer. Seu partido, o PRB, tem cargo no Ministério, a pasta da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Ocupa-a o presidente da agremiação, Marcos Pereira, que como Crivella é bispo (licenciado) da Igreja Universal do Reino de Deus.
Enquanto Crivella apoiou ou fez parte dos últimos três governos federais, Marcelo Freixo permaneceu na oposição _de esquerda_ a todos. Idem seu partido, o PSOL. Não deram trégua a Lula e Dilma, não dão a Temer. O que não impediu os psolistas, com a concordância de Freixo, de serem contra a deposição da presidente.
A trajetória distinta dos dois não é relevante para decidir o voto?
Em 2012, quando Freixo disputou a Prefeitura do Rio contra Eduardo Paes, o postulante à reeleição teve o apoio de Crivella e do PRB.
Não é importante conhecer a disposição do novo prefeito para ajudar ou dificultar o governo Temer a impor a dita reforma trabalhista? As mudanças afetarão também os cariocas.
No primeiro turno, os eleitores mostraram que nacionalizar a campanha pode dar, sim, votos. O concorrente do PSDB, Carlos Roberto Osório, cresceu depois de levar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao seu programa no horário eleitoral. O ''Fora, Temer'' impulsionou Freixo contra Pedro Paulo, candidato pelo mesmo PMDB do atual ocupante do Planalto.
Isso aconteceu porque, para o bem e para o mal, o Rio é o Rio, e não província.