Sabáticas: Times dos sonhos
Mário Magalhães
Em Meia-Noite em Paris, os sinos anunciam a virada para um novo dia, e o protagonista viaja até o deleite de confrarias artísticas e convescotes culturais da capital francesa nos anos 1920. A época em que a cidade, assim a eternizou Hemingway, era uma festa.
O convite sugerido por Woody Allen ao espectador é sonhar o cenário e a quadra da história que desejaria visitar ou viver. Outra personagem do filme passeia mais longe, na Belle Époque, e resolve ficar. Eu adoraria testemunhar o parto dos Beatles, no Cavern Club, e excursionar ao Quilombo dos Palmares, no século 17.
Saiu em 2015 um livro que também brinca com o tempo, Tijucamérica: Uma Chanchada Fantasmagórica, do jornalista José Trajano. Em vez de despachar gente ao passado, as páginas rejuvenescem veteranos e ressuscitam quem já foi desta para melhor.
A trama é saborosa: Trajano abandona o posto de comentarista da ESPN e assume a presidência do seu clube de coração, o pequeno, porém valente América. Para reeditar as distantes jornadas de glória, o aprendiz de cartola reúne, com ajuda de amigos íntimos dos espíritos, os 25 maiores jogadores que o time teve em cem anos. Junta craques aposentados, agora mais recauchutados que habitué de spa, e zumbis resgatados do além.
“Esta foi a maneira fácil que encontrei para o meu América voltar a ser campeão”, escreveu o autor na dedicatória para mim.
Se eu tivesse os poderes do Trajano, convocaria o Marlon Brando em idades diferentes para regressar aos sets: do jovem de Sindicato de Ladrões ao cinquentão de Apocalypse Now, passando por O Poderoso Chefão e O Último Tango em Paris.
E daria um jeito na cambaleante seleção brasileira. Como? Escalando o timaço que perdeu a Copa de 82, a ser comandado novamente pelo Telê. Em 2018, com Falcão, Cerezo, Zico e Sócrates, não teria para ninguém. Será que o Trajano toparia pedir uma forcinha aos amigos dele?
(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, setembro de 2015)