Pitacos sobre o debate no Rio e a tacada mais arriscada de Pedro Paulo
Mário Magalhães
Alguns pitacos sobre o debate entre oito candidatos a prefeito do Rio, na TV Globo, não por ordem de importância:
* Sem entrar no mérito do que dizem: seis deles falam bem na televisão, têm uma lábia muito boa. Por ordem alfabética: Alessandro Molon (Rede), Carlos Roberto Osório (PSDB), Indio da Costa (PSD), Jandira Feghali (PC do B), Marcello Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL).
* Pedro Paulo (PMDB) costuma ser mediano. É possível que a condição de alvo mais frequente das críticas dos adversários influencie negativamente seu rendimento.
* Flávio Bolsonaro (PSC) se expressa com menos clareza. Há partidários dos seus valores e ideias que vendem o peixe com mais eficiência. Talvez a inexperiência como candidato majoritário tenha pesado. No primeiro debate televisivo, Bolsonaro passou mal e o abandonou. Ganhou confiança durante a campanha.
* Pode ter rendido votos ou não, mas aparentemente Osório e Molon tiveram na noite passada suas melhores performances em todos os debates de 2016.
* Foi no mínimo temerária a iniciativa de Pedro Paulo de provocar Freixo para a discussão em torno de temas associados à Lei Maria da Penha. De um lado, o personagem em questão é um ex-assessor de Freixo; do outro, o próprio postulante do PMDB. Freixo exonerou o funcionário, enquanto Pedro Paulo foi prestigiado por seu partido e lançado candidato. ''Pedro Paulo'' tornou-se no começo da madrugada a expressão mais mencionada no Twitter, em todo o Brasil. Quase sempre em tom pejorativo, como na acusação ''Pedro Paulo bate em mulher'', embora o inquérito sobre agressão do peemedebista à ex-mulher tenha sido arquivado pelo STF. Mais do que arriscado, pareceu suicídio político chamar Freixo para o confronto no terreno que gera vasta rejeição a Pedro Paulo.
* É razoável supor que o debate não tenha tido um grande vencedor. Não se descarta, contudo, que tenha tido um grande derrotado.
* O maior risco para Pedro Paulo talvez não tenham sido as menções diretas ou indiretas ao episódio com a ex-mulher, mas a insistência de os contendores o vincularem aos seus impopulares correligionários Michel Temer, Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.
* Nem sempre, ou na maioria das vezes, debates têm consequências notáveis em campanhas eleitorais. Mesmo que assistidos por muita gente e comentados por mais gente ainda. Numa disputa acirrada como a do Rio, talvez o da Globo tenha consequências maiores. A dinâmica campanha-debate-campanha dificulta identificar os efeitos dos debates. Um candidato pode ir muito bem na TV e cair nas pesquisas porque sua campanha já entrara em declínio. Ou ir mal no debate e subir, pois sua curva de votação já era ascendente. Existem candidatos que apanham muito na TV e crescem. E o contrário. Idem com quem ataca com mais virulência. Dialética na veia (alô, produção, é Hegel, não Engels).
* Com 34% no Ibope, Marcello Crivella já está no segundo turno.
* Em tese, seis candidatos que o seguem podem alcançar o mata-mata derradeiro: Freixo e Pedro Paulo (10%), Indio (8%), Bolsonaro e Jandira (7%) e Osório (4%). Deles, a maior zebra seria Bolsonaro.
* Pós-debate: a campanha de Pedro Paulo teme não somente Freixo no domingo, mas também Indio.