Blog do Mario Magalhaes

A batalha do ‘voto útil’ no Rio: Pedro Paulo (PMDB) x Marcelo Freixo (PSOL)

Mário Magalhães

blog - datafolha rio 26.set.2016

Pesquisa Datafolha para prefeito do Rio feita em 26.set.2016

 

A pesquisa mais recente para prefeito do Rio foi feita ontem pelo Datafolha. As entrevistas do levantamento do Ibope ocorreram de sexta a domingo. O Datafolha captou, portanto, eventuais efeitos do debate de anteontem à noite na TV Record.

O resultado das duas pesquisas difere muito no desempenho de Marcelo Crivella (PRB), em ambas assegurado no segundo turno. O Datafolha lhe confere 29% do total de votos. O Ibope, 35%. E no de Indio da Costa (PSD), 5% no Datafolha e 8% no Ibope.

Os dois institutos mostram a disputa embolada pela outra vaga no mata-mata derradeiro. A principal conclusão dos números é que se consolida a tendência de polarização entre Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSOL) para a escolha do antagonista de Crivella.

De acordo com o Datafolha, Pedro Paulo tem 11% de intenção de votos. Freixo, 10%. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.

Pedro Paulo é o candidato do prefeito Eduardo Paes. Em 2012, impulsionado por uma coalização de 20 partidos, Paes foi reeleito no primeiro turno com 64,60% dos votos válidos.

Sem coligação, Freixo foi o único candidato competitivo de esquerda. Colheu 28,15% dos sufrágios.

Em 2016, para cada segundo de Marcelo Freixo no horário eleitoral da TV, Pedro Paulo conta com 19.

Mesmo assim, Pedro Paulo não decolou até agora, embora venha crescendo. A administração do seu padrinho político é aprovada por cerca de um terço dos cariocas. Dessa parcela, um terço diz que votará no apadrinhado. À rejeição a Paes se soma a de Pedro Paulo, em especial a denúncia de agressão à ex-mulher, que rendeu inquérito mais tarde arquivado pelo STF. Pedro Paulo é correligionário de Michel Temer, Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, vínculo que lhe rouba votos.

Freixo também não reeditou até aqui a performance de 2012, embora a queda seja bem menor que a de Eduardo Paes/Pedro Paulo. Sua presença escassa na TV lhe custa caro, a despeito da eficiência da campanha nas redes e da militância, a mais visível, nas ruas. Outro obstáculo é a existência de mais dois candidatos de esquerda de expressão nacional, Jandira Feghali (PC do B, 7%) e Alessandro Molon (Rede, 1%) _no Datafolha.

Se já era claro o corte ideológico entre Pedro Paulo, mais à direita, e Freixo, à esquerda, a distinção ganhou tonalidade mais forte com uma inflexão recente do peemedebista. Orientado por seus marqueteiros, Pedro Paulo passou a alardear ''radicalismo'' de Freixo _e Jandira. Trata-se do habitual discurso de direita capaz de obter no Rio bem mais votos do que 11%.

O comando da campanha do PMDB busca incentivar o ''voto útil'' de quem pensa em sufragar Indio, Flávio Bolsonaro (PSC, 7%) e Carlos Roberto Osório (PSDB, 6%). Se a transferência para Pedro Paulo existiu, por enquanto foi mínima. O ''voto útil'' serviria para barrar a esquerda no segundo turno.

Talvez mais do que Pedro Paulo, Marcelo Freixo precisará do ''voto útil'' do chamado eleitorado ideológico, uma tradição do Rio. Se houve, foi residual o abandono de eleitores de Jandira para aderir a Freixo. O deputado estadual depende do incremento dessa transferência, além de conquistar votos em outros segmentos, para superar Pedro Paulo e levar a esquerda ao segundo turno.

Em 2012, o PC do B apoiou a reeleição de Paes. Hoje, o vice da chapa de Jandira é do PT, que quatro anos atrás também ficou com o prefeito. O atual vice de Paes é petista. PT e PC do B permaneceram por cerca de sete anos na Prefeitura do Rio comandada pelo PMDB. Romperam depois que os peemedebistas abraçaram a causa do impeachment de Dilma Rousseff.

Jandira afirma que a aliança no Rio constituía exigência do projeto de governo nacional que necessitaria do suporte do PMDB. Foi um ''pedágio'', disse a deputada, para Lula e Dilma conseguirem governar. Jandira foi secretária de Cultura na administração Eduardo Paes.

Freixo costuma enfatizar que nunca fez aliança eleitoral com o PMDB. Assim, diferencia-se de Jandira.

Partidários dos dois candidatos têm batido boca, mas Jandira e Freixo não se atacam, ao menos não com virulência.

Na reta final, Pedro Paulo conta com as máquinas federal (governo Temer), estadual (Pezão/Dornelles) e municipal (Paes). Arrecadou muito mais dinheiro para a campanha. O tempo de televisão é muitíssimo maior. Tem a simpatia dos meios de comunicação mainstream.

Freixo aposta em reeditar a arrancada da última semana de campanha em 2012. O maior comício da de 2016 foi, disparado, o que ele promoveu ontem à noite na Lapa. Se mobilizar o ''voto útil'' da esquerda, pode impedir o segundo turno entre Crivella e o PMDB.

Uma semana para a história.

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