Blog do Mario Magalhaes

Por que a liberação de saia para todos no Colégio Pedro II incomoda tantos

Mário Magalhães

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Protesto em Lavras (MG) pelo direito de todos usarem saia na faculdade – Foto Thiago Henrique

 

O Colégio Pedro II aboliu a obrigação de uniforme por gênero.

Ficou assim: todos os alunos que quiserem podem usar saia, antes restrita às meninas.

A decisão da reitoria não caiu do céu. É resultado de mobilização civilizatória na tradicionalíssima instituição carioca, fundada em 1837.

Em 2014, uma aluna transgênera foi proibida de vestir saia, e a gurizada foi à luta ao seu lado.

O reitor Oscar Halac afirmou: ''A novidade é que não se determina o que é uniforme masculino e o que é uniforme feminino, apenas são descritas as opções de uniforme do Colégio Pedro II. Propositalmente, deixa-se a critério da identidade de gênero de cada um a escolha do uniforme que lhe couber. Estamos cumprindo a determinação de uma resolução vigente e procuramos de alguma maneira contribuir para que não haja sofrimento desnecessário entre aqueles que se colocam com uma identidade de gênero diferente daquela que a sociedade determina. Creio que a escola não deve estar desvinculada de seu tempo e momento histórico. A tradição não importa em anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar”.

A íntegra da portaria histórica pode ser lida clicando aqui. A norma considera ''a importância da manutenção da igualdade obtida através do uso do uniforme escolar; a identidade, a diversidade e a segurança do corpo discente; a importância histórica do Colégio Pedro II''.

O uniforme continuará todo certinho, como a paisagem carioca se habituou. A portaria é clara ao especificar as minúcias da vestimenta.

Termina a opressão contra quem prefere se vestir assim ou assado, por ser assim ou assado. É o século 21 dando as caras.

A novidade no CP2 incomoda alguns por ignorância: pensam que a saia se tornou obrigatória aos meninos. Pelo contrário: a mudança nada impõe, transfere a decisão, incentiva a autonomia, celebra e respeita a diferença. É direito, não dever.

Outros se contrariam porque mantêm convicções totalitárias, achando que o Estado deve determinar até a roupa _no fundo, decretar gênero e orientação sexual.

Muita gente ainda está com um pé no século 20 _o outro pé está no 19.

A turma do preconceito é grande.

Estabelecimento público federal, o Colégio Pedro II é velho, mas não velhaco. Sua história é marcada por grandes lutas pela democracia e pela tolerância.

Mais uma vez, dá um bom recado ao Brasil.

Podem escrever: seu exemplo frutificará país afora.

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