Blog do Mario Magalhaes

O vigor de Crivella, o vídeo que preocupa sua campanha e a força da TV

Mário Magalhães

 

Antes da largada da campanha oficial para prefeito do Rio, havia uma percepção comum ao conjunto dos candidatos mais competitivos: num segundo turno, o adversário mais conveniente seria o senador Marcello Crivella (PRB).

A experiência de 2014 referendava a preferência: assim que o candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB) exibiu na TV a propaganda reproduzida acima, liquidou as chances de Crivella, que se aproximava. O senador acabou perdendo pela diferença de 11,56 pontos.

O anúncio mostra um vídeo antigo, que muitos eleitores desconheciam ou haviam esquecido, do bispo Edir Macedo tratando de arrecadação de dinheiro para a Igreja Universal do Reino de Deus. Crivella é sobrinho de Macedo e bispo licenciado da Iurd. Sua histórica rejeição decorre sobretudo desse vínculo, fatal dois anos atrás.

Crivella perdeu para Pezão, apadrinhado do ex-governador Sérgio Cabral, o político do Rio que mais se desgastou nas Jornadas de Junho de 2013. Se o oponente fosse outro, a hipótese de derrota de Pezão seria maior.

As pesquisas de opinião vêm mostrando, porém, que 2016 não repetirá necessariamente 2014. Crivella aparece mais forte.

O Ibope foi a campo nesta semana e confirmou a pujança do senador. Identificou empate técnico entre cinco candidatos na segunda posição.

Abaixo, os concorrentes que pontuaram, com a variação em relação ao levantamento de agosto:

Marcello Crivella 31% (PRB, + 4 pontos)

Marcelo Freixo 9% (PSOL, – 3)

Pedro Paulo 9% (PMDB, + 3)

Flávio Bolsonaro 8% (PSC, -3)

Jandira Feghalli 8% (PC do B, + 2)

Índio da Costa 7% (PSD, + 2)

Carlos Osório 3% (PSDB, – 1)

Alessandro Molon 1% (Rede, – 1)

Cyro Garcia 1% (PSTU, variação zero)

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Crivella vence em todos os cenários de segundo turno pesquisados.

Uma distinção de Crivella nesta campanha é o vigor já no primeiro turno. No pleito para governador, ele atropelou na reta final, deixando Anthony Garotinho fora do mata-mata derradeiro. Na disputa para prefeito, o PR de Garotinho integra a coligação de Crivella. Os dois são os políticos de maior votação entre eleitores evangélicos. Têm vasto apoio nos segmentos mais pobres da população.

Outro contraste são as dificuldades do candidato Pedro Paulo, indicado pelo prefeito Eduardo Paes. Embora associado a Cabral, Pezão mantém o jeito bonachão. A rejeição a ele, hoje governador licenciado, existe sobretudo devido à gestão e à política. Pouco tem de pessoal. Pedro Paulo tornou-se mais conhecido devido ao registro policial de agressão à ex-mulher, que resultou em inquérito arquivado pelo STF. Hoje, informa o Ibope, 36% dos cariocas não votariam em Pedro Paulo de jeito nenhum. O índice de Crivella é mais baixo, 24%. Ajuda-o o estilo de bom moço, que evita confrontos diretos e só sobe o tom quando é atacado.

Com perspectiva de poder mais verossímil que em 2014, recebe adesões como a de setores expressivos do PSB.

Contra Pedro Paulo, lembra que Pezão e seus correligionários quebraram o Estado.

Seu maior temor, com qualquer antagonista no segundo turno, é a trajetória de prócer da Igreja Universal lhe custar de novo a vitória. Por isso, dia sim, outro também, recorre ao que os marqueteiros chamam de vacina. Na propaganda eleitoral, divulga sua visita ao cardeal católico Dom Orani Tempesta.

Crivella conta neste ano com a vantagem de ter mais tempo de TV do que antes (1 minuto e 11 segundos), mesmo com a redução do horário gratuito.

Ao contrário do que alguns analistas supunham, a presença na televisão permanece muito importante.

Freixo e Bolsonaro oscilaram três pontos para baixo. O candidato do PSOL tem meros 11 segundos no horário eleitoral. O do PSC, 23 segundos.

Molon, 18 segundos.

Os quatro que subiram ou oscilaram para cima estão entre os cinco com mais tempo: Pedro Paulo (3 minutos e 30 segundos), Jandira (1 minuto e 27 segundos), Índio (1 minuto e 24 segundos) e Crivella.

Osório, 1 minuto e 16 segundos, destoa. O tucano tenta se vitaminar buscando politizar a campanha, nacionalizando-a, ao criticar os ex-presidentes Lula e Dilma e a coalização que os sustentou.

Parece inspirado na ascendente Jandira. A deputada concentra o discurso na condenação ao impeachment e enfatiza a condição de candidata de Dilma e Lula.

Faltam 17 dias para o primeiro turno.

A impressão inicial de que Crivella seria um dos dois primeiros colocados vai se confirmando.

A essa altura, chutar o nome do seu contendor em 30 de outubro é isso mesmo: chute.

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