O melhor da segunda temporada de ‘Narcos’ é a solidão de Pablo Escobar
Mário Magalhães
Os dois personagens mais marcantes da carreira de Wagner Moura são o capitão/coronel Nascimento e o traficante de drogas Pablo Escobar.
Até hoje muita gente discute qual foi o melhor dos dois ótimos filmes de José Padilha, ''Tropa de Elite'' 1 ou 2.
Sou mais o primeiro, por muitos motivos, entre os quais o caráter complexo do capitão alucinado, em contraste com o coronel rasgadamente mocinho.
Agora há outra conversa nas rodas, e as preferências se dividem entre as duas temporadas de ''Narcos''.
Fico com a segunda, porque exibe o melhor da série da Netflix, em matéria de dramaturgia, direção e interpretação: a solidão progressiva do facínora Escobar quando sua ruína se aproxima.
Em seu momento supremo como ator, o brasileiro dá densidade ao personagem macambúzio e mau, sem se permitir caras e bocas (leia aqui comentário sobre a primeira temporada).
Uma obra televisiva em dez episódios, como esta em que José Padilha é diretor executivo, não deve se confundir com teses acadêmicas ou tratados históricos. É arte.
Ainda assim, ''Narcos'' 2 tem o mérito de mostrar bandalheiras também de outros contendores, como um cartel do tráfico concorrente, um bando paramilitar, agências dos Estados Unidos como DEA (antidrogas) e CIA, o governo colombiano. Sem matizar os crimes sangrentos de Pablo Escobar, como a explosão de bombas que matam, ferem e amedrontam inocentes.
Dessa vez, o acossado Escobar é o protagonista inequívoco. Na primeira temporada, em sua época de imenso poder, dividia a condição com um agente norte-americano.
Há liberdades em relação aos fatos originais. É óbvio, pois se trata de trama de ficção, e não de reportagem. Baseia-se em personagens e episódios reais, porém os recria com licenças dramatúrgicas.
Belo trabalho, valorizado por um grande ator.