‘Michel [Temer] é Eduardo Cunha’, disse Jucá, antes de ‘estancar a sangria’
Mário Magalhães
Os brasileiros têm memória curta, costumam dizer.
Não é bem assim: a conveniência de alguns empenha-se em suprimir ou esmaecer a memória incômoda, ao menos com o silêncio.
Às vezes conseguem, outras, não.
Imagine se fossem outros os personagens do conluio despudorado transcrito no diálogo acima, e não corifeus do PMDB que empalmou o poder.
O esquecimento e a discrição seriam tamanhos?
Com o propósito de ''mudar o governo pra poder estancar a sangria'' das investigações sobre falcatruas, nas palavras do senador Romero Jucá, ''a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]'', conforme seu correligionário Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.
Botaram, na conspiração pela impunidade que instalou no Planalto um governante ilegítimo, Michel Temer.
No que dependesse de seus comparsas, o deputado Eduardo Cunha sairia ileso da refrega.
Sem ele, a trama para depor Dilma Rousseff não teria prosperado.
Só que houve o STF no meio do caminho, dificultando a vida do antigo presidente da Câmara.
Talvez na próxima segunda-feira o destino de Eduardo Cunha seja sacramentado por seus pares.
Com o mandato cassado ou não, permanecerão as palavras de Jucá, um dos íntimos de Temer, endossando alegada convicção do senador Renan Calheiros: ''O Michel é Eduardo Cunha''.
Temer só chegou lá graças aos serviços do seu companheiro de viagem agora pela bola sete.
Michel Temer é tão ilegítimo quanto Eduardo Cunha.
Em favor da memória da camaradagem entre os dois, mais uma recordação: ''Em mensagem, Cunha citou repasse de R$ 5 milhões a Michel Temer''.
Muita gente não se esqueceu de tudo isso, mas prefere que ninguém lembre.