Blog do Mario Magalhaes

Maracanã emociona, inspira, ensina, encara desesperança e fulmina complexo

Mário Magalhães

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O cortejo da bandeira paraolímpica – AFP Photo/Tasso Marcelo

 

A cerimônia de abertura da Paraolimpíada do Rio emocionou.

Talvez nenhum momento tenha sido tão emocionante quanto o desfile de pais e filhos com a bandeira paraolímpica. Eles usaram uma bota que permite ao adulto ajudar a criança com limitação de movimentos nas pernas a chutar a bola no futebol. Ou o pas de deux do casal com deficiência visual que bailou ao som das Bachianas Brasileiras nº 4, de Heitor Villa-Lobos, composição que muitos conheceram na trilha sonora da minissérie ''Anos Rebeldes''. Um coração criado por Vik Muniz e desenhado com peças gigantes de quebra-cabeça levadas pelas delegações pulsou no tablado sobre o campo do Maracanã.

Inspirou.

Como a antiga atleta paraolímpica Márcia Malsar. Apoiada numa bengala, ela carregava a tocha quando se desequilibrou e caiu. Márcia se levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima, caminhando até passar a tocha à frente.

Ensinou.

Antes de acender a pira, o nadador Clodoaldo Silva viu o caminho de sua cadeira de rodas barrado por uma escada, até que surgiram rampas. Por rampa todo mundo sobe e desce. Rampa inclui, escada exclui.

Encarou a desesperança.

Do início ao fim, pelo exemplo de tanta gente, até Seu Jorge entoar na saideira o recado de Gonzaguinha (''Eu acredito é na rapaziada…'') e de Roberto & Erasmo (''É preciso saber viver…'').

Fulminou o complexo de vira-lata.

Ao mostrar, com a noite bela e comovente, que só na cachola miserável e egoísta de alguns o Brasil nasceu para fracassar.

Se os campeões dos Jogos Paraolímpicos ainda serão conhecidos, o grande derrotado na noite de 7 de setembro tem nome e sobrenome: Michel Temer, vaiado várias vezes.

O escritor, cronista, jornalista e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva e seus colegas que bolaram e organizaram a festa estão de parabéns.

E não estão de parabéns emissoras que preferiram não exibir a cerimônia. A TV Globo vive a falar de inclusão e tolerância, dos noticiários às novelas. Numa Paraolimpíada em pleno Rio, não transmitiu a abertura ao vivo e na íntegra. Assim, o discurso de promoção do respeito às diferenças soa como hipocrisia.

Agora é correr atrás das medalhas. No esporte paraolímpico, o Brasil é potência.

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