Blog do Mario Magalhaes

10 coisas sobre um dia no pavilhão do boxe, onde se grita ‘Uh! Vai morrer!’

Mário Magalhães

Robson Conceição vibra com triunfo contra o cubano Lázaro Álvarez – Foto Danilo Verpa

 

A sessão dominical do boxe no pavilhão 6 do Riocentro começou às 11 da manhã e terminou quase às três da tarde. Em 14 combates, 13 foram decididos por pontos e um por nocaute técnico. Dez coisas que eu vi lá:

1) Na entrada do Riocentro, os seguranças cumprem a regra de proibir a entrada de líquidos, inclusive garrafa de água. No Parque Olímpico, nem sempre a determinação é obedecida. Quem foi ao boxe teve de pagar os pornográficos R$ 8 de tabela por uma garrafa de 500 ml de água mineral sem gás.

2) Nas primeiras lutas, eliminatórias femininas e masculinas, o público ocupava somente uns 10%, 15% do espaço disponível. Mais tarde, nos três combates com brasileiros, superou os 80%, talvez os 90%.

3) Existem áreas nas arquibancadas reservadas para atletas e delegações, que se agrupam por país. Por isso, ao contrário do que ocorre na natação, muitos idiomas são ouvidos bem alto. Há torcida grande do Cazaquistão, da Armênia, de Cuba, do Uzbequistão, da Rússia. Torcedores pipoca, ou isolados, os irlandeses eram numerosos. A maior torcida estrangeira foi a da Colômbia, que tinha um boxeur na única final da sessão (perdeu para um uzbeque). A mais alto-astral, a da Tailândia.

4) O boxe olímpico mantém a tradição machista das ring girls, as garotas que carregam uma placa anunciando o número do próximo round (os combates de homens têm três assaltos, de três minutos cada um, e os das mulheres, quatro, de dois minutos). As ring girls, contudo, não caminham em cima do ringue, mas em torno dele, no chão da arena. Usam bermudas bem comportadas, e não biquínis. Mesmo nas lutas entre mulheres, há ring girls.

5) De vez em quando, a torcida entoa o indefectível ''sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor''.

6) Nenhum grito anima tanto quanto o ''Uh! Vai morrer!''. Foi dirigido ontem contra os adversários dos brasileiros _dois cubanos e um norte-americano. Dois brasileiros foram derrotados, mas o valente Robson Conceição venceu o cubano Lázaro Álvarez na semifinal da categoria até 60 kg. A torcida o ovacionou: ''É campeão! É campeão!'' O ''Uh! Vai morrer!'' é habitual em lutas do UFC e em estádios de futebol.

7) Três aspectos das categorias mais leves impressionam: a rapidez dos pugilistas; a quantidade de golpes desferidos; e a pouca força dos golpes _nocautes são raros.

8) Um dos estrangeiros adotados pela torcida brasileira na Olimpíada caiu ontem. O equatoriano Carlos Mina era saudado por torcedores cantando Mamonas: ''Mina, seus cabelo é da hora, seu corpão violão''… Nas quartas-de-final, ele não deu sorte, na categoria até 81 kg: enfrentou o francês Mathieu Bauderlique, que o derrubou várias vezes. A luta terminou antes da hora, por nocaute técnico. Nenhum combate teve golpes tão duros como os aplicados pelo europeu.

9) A arena é metálica, da estrutura ao piso das arquibancadas (que têm cadeiras, é claro). Ao torcer, os presentes batem os pés no metal, produzindo um barulho ensurdecedor, como se várias britadeiras estivessem funcionando ali ao mesmo tempo.

10) Para quem procura o boxe de estilo clássico e elegante, os melhor de assistir são os lutadores dos EUA e de Cuba. Mas, no esporte olímpico, ainda mais entre os magros, nem sempre tal maneira de combater funciona.

P.S.: fui ao Riocentro como apreciador do boxe e torcedor, não como jornalista. Se eu gritei ''Uh! Vai morrer!''? Digamos que, como a ameaça é simbólica, não tem nada demais. Depois de ser alvo de tais gritos, o cubano Julio César La Cruz foi muitíssimo aplaudido ao saudar o público. Na semi, ele cruzará com o francês Mathieu. Será o confronto entre a elegância de Cruz e a pegada potente do francês. Imperdível, como a luta de Robson Conceição contra outro francês, Sofiane Oumiha.

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