Noite de sonho na piscina vira corrida pelo último metrô
Mário Magalhães
Ver Michael Phelps, Ryan Lochte e Thiago Pereira liderarem a mesma bateria na semifinal dos 200 metros medley.
A catalã Mireia Belmonte conquistar para a Espanha a medalha de ouro nos 200 metros borboleta.
A norte-americana Katie Ledecky liquidar a fatura na final do revezamento 4 x 200 metros livre.
A húngara Katinka Hosszú mergulhar na mesma prova, apenas para cumprir tabela, pois seu quarteto já não tinha chances, e mesmo assim nadar para valer.
Uma noite de sonho, nesta quarta-feira, no estádio aquático olímpico Rio 2016.
Tão iluminada que um inspirado menino de nove anos resolveu torcer para o nadador da raia 8, na decisão dos 200 metros peito. Era o azarão Dmitriy Balandin. E não é que o cazaque ganhou?
Mal os ponteiros se cruzaram à meia-noite, começou a corrida para que a carruagem não se transformasse em abóbora.
Tudo por causa do desrespeito com quem vai às competições noturnas no parque olímpico: para boa parte do público da natação, o metrô fecha cedo demais.
A linha 4 (Barra a Ipanema) fecha à 1h. Para alcançá-la a tempo, é preciso pegar o ônibus (BRT) no terminal próximo às instalações esportivas, construídas num terreno meio Barra, meio Jacarepaguá. Quer dizer, mais ou menos próximo. Caminha-se até lá por 10, 15, 20 minutos. Ou mais, a depender do ritmo de cada um.
Os que chegam à linha 4 do metrô depois da 1h são levados de ônibus para a zona sul. Perdem o metrô da linha 1 (Ipanema à Tijuca), cuja operação termina à 1h30. O ônibus segue até a Central do Brasil, e não até a Tijuca. Os tijucanos que se virem com os ônibus escassos da madrugada, paguem bandeira 2 no táxi ou um pouco menos no Uber.
Os Jogos do Rio não garantem transporte para quem é submetido a horários absurdos como a sessão da natação que inicia às 22h e cujos ingressos foram vendidos a preços salgados.
A barbaridade faz com que muita gente não fique até a última prova. Ontem foram 12: quatro finais e oito baterias de quatro semifinais.
Quem recusou o sacrilégio de abrir mão de ver Ledecky e Hosszú juntas na piscina teve outra tática: assim que foi encerrado o revezamento, última disputa, partiu em passo rápido rumo à estação dos ônibus. Ficou sem ver duas cerimônias de premiação. Já passava da meia-noite.
Pessoas mais velhas e com locomoção lenta não têm como vencer o cronômetro. Para quem está com o moleque de nove anos, a esperança é que ele segure o rojão. O guri segurou. Pegamos o BRT pouco depois da meia-noite e meia, e o metrô da linha 4 à 1h.
Na estação General Osório, em Ipanema, corremos para a linha 1, que pararia à 1h30.
''O metrô da linha 1 ainda está funcionando?'', perguntei a um funcionário.
''Sim, este é o último'', ele respondeu.
Ufa!
A Prefeitura do Rio acha que está tudo bem com esse esquema da concessionária Invepar que castiga quem vai aos Jogos.
Alega que a manutenção exige um descanso do metrô.
Em alguns dias, o limite é estendido para as 2h.
Se é viável às vezes, por que não sempre, ao menos na Olimpíada?
Até onde é possível não ter problema há certo pessoal que dá um jeito de complicar.