Blog do Mario Magalhaes

Com Marta fulgurante, nasce o Carrossel Tropical

Mário Magalhães

5 a 1: encanto e eficiência enfeitiçam o futebol – Foto reprodução ESPN

 

Em que posição joga Marta na seleção feminina?

Na meia-direita, como se viu no começo do chocolate de 5 a 1 sobre a Suécia.

Mas, no segundo gol, ela atacou pela esquerda e foi quase à linha de fundo, antes de passar para Cristiane marcar.

No terceiro, investiu pelo meio e tocou para Cristiane, que foi derrubada na área. Marta converteu o pênalti.

No quarto, Marta recebeu pelo centro, avançou pela esquerda e anotou.

Mas ela não joga pela direita do meio-campo?

Sim, mas depois que Cristiane saiu contundida Marta passou para o ataque. Além de se adiantar, ficou um pouco mais centralizada. Fez dobradinha com Beatriz, à sua esquerda.

Afinal, em que posição joga Marta?

A grande diferença em relação aos 3 a 0 na China foi que ela circulou muito mais à vontade.

Já na primeira etapa trocou de lugar com a meia-esquerda Andressa Alves.

Logo destrocaram. E trocaram de novo.

A combinação de eficiência e arte volta a enfeitiçar o futebol.

A última vez em que uma adolescente que adora futebol havia olhado para mim e dito ''O que é isso?'' havia sido no terceiro ou quarto gol da Alemanha em 2014.

Ontem à noite ela repetiu, agora fascinada: ''O que é isso?''

É o Carrossel Tropical.

Tem um milhão de diferenças com o Carrossel Holandês de 1974.

E com o Carrossel Caipira que Vadão, o técnico da seleção, criou no Mogi Mirim no começo da década de 1990, num time com o jovem Rivaldo.

Mas tem o DNA comum.

O do cultivo da posse de bola. O apreço pelo futebol bem jogado. A recusa a ficar parado como botão em mesa. A equipe roda, não fica no mesmo lugar.

Não faz muito tempo a seleção funcionava com uma jogadora de linha se aproximando da goleira para receber a bola. Ou a goleira dava um chutão. Agora, as zagueiras abrem nas laterais, as duas volantes ou meias se aproximam, e a bola sai de pé em pé. O padrão do Barcelona de Guardiola, herdeiro das lições de Cruijff.

A troca de bola rápida no ataque, com movimentação constante, embora menos intensa que a dos holandeses, confunde a marcação. A Suécia é um dos grandes no futebol feminino. Ficou zonza.

A seleção feminina consegue o que se sonha para os homens: misturar no mesmo time qualidade técnica, disciplina tática e inteligência de jogo.

Vai girando a bola, as jogadoras se desmarcam, e o futebol vive seu esplendor.

A seleção será campeã, superará as norte-americanas e outras adversárias?

A Holanda não foi em 74.

Nem o Mogi Mirim.

Mas aqueles foram times para a história. Da Laranja Mecânica nem se fala. E era um prazer assistir ao Carrossel Caipira em campo.

Não se poderá contar mais a história do futebol sem lembrar os 5 a 1 no estádio Nilton Santos. Sem celebrar Marta, Vadão, a seleção inteira, o Carrossel Tropical.

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