Legado olímpico: muito cedo para um balanço peremptório
Mário Magalhães
Palavrinha presunçosa essa, legado, mas deixa estar.
É muito cedo para balanços peremptórios sobre a herança da Olimpíada para o Rio.
Há dois critérios a adotar: o que foi prometido e o que mudou.
Talvez tenha havido, talvez, melhora ambiental discretíssima aqui ou ali. No conjunto, contudo, ocorreu uma catástrofe. A cidade desperdiçou a oportunidade de combater a pornográfica poluição da baía de Guanabara e das lagoas da zona oeste.
Os compromissos com transporte não foram integralmente cumpridos. Mas é evidente que os corredores expressos de ônibus (BRT), os bondes high-tech (VLT), a linha 4 do metrô e novos túneis representam progresso da chamada mobilidade urbana. A despeito de estações a menos e itinerários mais curtos que os planejados. E de atrasos.
Os Jogos renderam muitos empregos. O problema é que eles partirão com a cerimônia de encerramento.
As reformas urbanísticas no Centro tiveram impacto, mas ainda não se sabe até que ponto.
A análise dos benefícios e dos prejuízos é complexa. Se permitem, dialética.
Dependerá do estado das contas, quando abrirem a caixa-preta.
Do escrutínio dos contratos (só agora se revela a maracutaia para a reconstrução do Maracanã antes da Copa de 2014).
E de saber o que realmente decorreu da Olimpíada.
A valorização excessiva de imóveis é boa ou ruim? Para quem mora de aluguel ou quer comprar a casa própria, constitui um desastre.
Sem falar em quem foi removido por conta das obras _e interesses_ dos Jogos.
É inegável que o Rio perdeu a chance de promover desenvolvimento social relevante (melhoria perceptível das condições de vida, redução da desigualdade).
E que os serviços de saúde e educação permanecem ruins.
Mas falar agora em fracasso ou êxito do legado olímpico parece coisa de pitonisa.
Por mais que existam tantas delas dando chutes por aí.