Os três calmantes de Rodrigo Maia, seu primeiro abraço e as crias de Cesar
Mário Magalhães
Das imagens da longa jornada noite adentro que elegeu Rodrigo Maia presidente da Câmara talvez a mais eloquente tenha sido a do primeiro abraço que o deputado trocou ao ser anunciado o triunfo. Foi com o líder do seu partido, Pauderney Avelino. Decadente, o DEM teve sua gênese na Arena, agremiação oficial da ditadura. Pauderney é o sujeito sobre quem Sérgio Machado, ex-mandachuva da Transpetro, sentenciou em gravação: ''Um cara mais corrupto que aquele não existe''. O interlocutor, Renan Calheiros, emendou: ''Pauderney Avelino, Mendoncinha''. O noticiário identificou Mendoncinha como Mendonça Filho, hoje ministro da Educação de Michel Temer. O DEM, de tantos próceres investigados pela Operação Lava Jato e com raízes sombrias, e o campeão Pauderney ilustram o que a Câmara é e continuará sendo. Sem surpresa, para quem assistiu ao despudor da sessão dominical de 17 de abril.
Outra impressão do comecinho da madrugada lembrou um episódio das andanças de Tancredo Neves, nos idos de 1984 e 1985, em suas articulações para a disputa no colégio eleitoral contra Paulo Maluf. Muito mais jovem que a simpática raposa mineira, o repórter Ricardo Kotscho desconfiava que o veterano se cansava menos. ''Eu sou movido a vitamina P, meu filho'', esclareceu Tancredo. P de política e poder. Se o poder rejuvenesce, Rodrigo Maia vai na contramão. Aos 46 anos, a despeito do rosto rechonchudo de menino, tem o cocuruto devastado pela calvície, perdeu o controle da balança, caminha com a camisa para fora da calça. Problema? Nenhum. Mas que é original é. Assim como sua revelação ao se sentar pela primeira vez na cadeira até outro dia ocupada por Eduardo Cunha: tomou três calmantes para suportar a refrega. Rodrigo humaniza a figura clichê dos políticos, que gostam de se exibir seguros, destemidos, inexpugnáveis. Curiosidade: se para o embate em que contava com ampla vantagem foram necessários três calmantes, quantos ele tomará em entreveros mais renhidos?
Rodrigo se emocionou ao mencionar seu pai, o vereador Cesar Maia. Houve um tempo em que o ex-prefeito apostava sobretudo na carreira de dois jovens. Seu filho e Eduardo Paes. Os calouros contrastavam. Enquanto desde cedo Paes demonstrou desembaraço e vocação para o proscênio, Rodrigo preferiu costuras discretas nas coxias. Sempre pareceu, aos sócios, um integrante deste nosso vasto clube dos tímidos. Houve um momento em que, para se arriscar em voos mais altos, Paes rompeu com Cesar e Rodrigo. Foi deputado de destaque, chegou a prefeito do Rio, sonha ir mais longe ainda. Quanto mais Eduardo subia, maior era o declínio do seu antigo padrinho. A aversão de Cesar por Eduardo era tamanha que se disseminou no Rio a lenda urbana segundo a qual o ex-brizolista se ressentiria porque seu apadrinhado teria desistido de se casar com Daniela Maia, irmã gêmea de Rodrigo. Indagado numa entrevista sobre o rumor, Cesar negou tudo, até que o namoro tenha existido. A conquista da presidência da Câmara por Rodrigo recoloca seu pai na condição de político que muitos procurarão e adularão. Cesar e Rodrigo acabaram se reaproximando de Eduardo, que se tornou a figura mais influente do poder carioca. Agora, não são apenas os Maia que precisam de Paes. Este precisará de Rodrigo.
Para além de todas as análises e consequências políticas da eleição na Câmara, Rodrigo Maia é um tremendo personagem. Goste-se ou não dele, de suas ações e suas ideias.