Blog do Mario Magalhaes

Censura da TV a imagem de invasão de campo fere direito dos espectadores

Mário Magalhães

Homem invadiu campo no jogo Canadá x México, em 2016 – Foto reprodução

 

Alguém invadiu o gramado do estádio de Saint-Denis na decisão da Eurocopa.

Outras invasões já haviam ocorrido na competição.

Idem na Copa América deste ano.

No domingo, não se soube se o intruso era um exibicionista desses que correm pelados.

Ou um mentecapto tentando agredir jogador.

Ou um fã exacerbado suplicando autógrafo do ídolo.

Ou um terrorista.

Não se soube porque, como se tornou padrão, a transmissão televisiva omitiu a cena.

Ignoro se o sem-noção atacou um boleiro, gesto que poderia desestabilizar um time.

Se os atletas defenderam o invasor de excessos dos seguranças.

Ou, isso eu nunca vi, se um jogador esticou a perna para derrubar o penetra.

Se o bobalhão driblou muitos guardas antes de ser agarrado.

Para ser considerada sobretudo jornalismo, e não somente entretenimento, a cobertura do futebol tem de reverenciar a informação.

Jornalismo é o serviço público que consiste essencialmente em informar.

A invasão de campo e os movimentos do invasor constituem informação.

Se o critério for jornalístico, há de informar, exibindo sem restrições.

Os donos do jogo _os detentores dos direitos comerciais de transmissão e quem transmite_ decretaram censura às imagens de invasão.

Parecem pensar mais no negócio: não querem desvalorizá-lo.

Será que invasão de gramado desvaloriza o futebol?

O pretexto é não incentivar maluquices de loucos por aparecer.

Pelo jeito, não está dando certo, tantas são as invasões.

É o mesmo argumento para omitir o nome de organizações criminosas do Rio e de São Paulo. Alegam que dar nome a elas seria glamorizá-las, estimulando a adesão de jovens.

Será? O efeito mais notório é sonegar informação relevante.

Houve um tempo em que a imprensa brasileira não noticiava suicídios, por temer que o noticiário levasse a novas mortes.

O argumento também parece frágil, embora nem toda informação disponível tenha de ser publicada.

Se um repórter soubesse antes a data e o local do desembarque na Normandia, deveria noticiá-los? É lógico que não.

Sou contra noticiar abandono de bebês, por ter observado que quando se conta que um recém-nascido foi abandonado sobrevêm outros casos.

Mas isso tudo é bem mais complexo que invasão de campo de futebol.

Assim que o invasor entra em ação, os mandachuvas da transmissão cortam para cena sem sentido, como a de jogadores parados conversando ou um técnico limpando o nariz.

É um direito do espectador assistir às invasões, pois elas influenciam o jogo, parando-o e eventualmente esfriando-o.

A censura fere tal direito.

Tratam os espectadores como bocós, incapazes de julgar por si próprios o panaca invasor.

Inclusive os assinantes de canais esportivos pagos.

Há coisa mais importante a tratar no futebol?

Certamente.

Mas nem só de coisas mais importantes se vive a vida.

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