Blog do Mario Magalhaes

Deposição de Dilma Rousseff terá para sempre a marca de Eduardo Cunha

Mário Magalhães

O grande operador do impeachment – Foto Ueslei Marcelino/Folhapress

 

Num país onde viceja a hipocrisia, a safra de hipócritas estabelece recordes em 2016.

A excitação e gozo de muita gente com a recém-anunciada renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara contrasta com a excitação e gozo dessa mesma gente nas jornadas em que se bateu ao lado do deputado na conspiração para depor a presidente constitucional Dilma Rousseff.

É gente que encenou ter descoberto a ilegitimidade do velho chapa de Paulo César Farias depois que ele manipulou a tramitação do impeachment e comandou a obscena sessão de 17 de abril.

Aquele domingo sombrio foi decisivo para dar sinal verde à coalização favorável à derrubada da presidente eleita com 54.501.118 votos.

Notório já à época pelo que se sabia e supunha ter ele feito, Cunha foi indispensável para apressar e permitir o avanço do impeachment.

''O impeachment só tá acontecendo por causa do Eduardo Cunha'', reconheceu o deputado Paulinho da Força.

Até hoje inexiste prova ou indício de que Dilma tenha embolsado dinheiro público.

Um tipo enrolado com um sem-número de acusações de roubalheira e patifaria foi seu algoz.

Operou para um consórcio social, político e econômico poderoso.

Até expulsar Dilma do Planalto.

Michel Temer presidente é filho de Eduardo Cunha.

O desastroso segundo mandato da presidente, sobretudo por impor sacrifícios aos mais pobres, não elimina o caráter legítimo do poder chancelado pelo sufrágio popular.

Dilma não cometeu crime. Pedaladas e manobras fiscais são meros pretextos para destituí-la.

No acaso de Cunha, a hipocrisia alcança o paroxismo com o festejo de quem firmara pactos para a sobrevivência do capo da Câmara, desde que ele acossasse Dilma.

A ofensiva de Cunha contra Dilma foi também vingança pela decisão dos deputados petistas de cassar o mandato dele por mentir aos seus pares.

O acordão para salvar Cunha frustrou-se devido à intervenção da Justiça, que o afastou da chefia da Casa _embora tenha permitido que ele permanecesse até o 17 de abril. E por novas descobertas e ações de policiais federais e procuradores da República.

A deposição de Dilma Rousseff, se confirmada pelo Senado, estará para sempre marcada pelas digitais de Eduardo Cunha.

Eis mais uma evidência do golpe contra a democracia maquinado por ele e seus aliados pró-impeachment.

A queda de Cunha, mais ainda a possível perda do mandato, é boa notícia para o Brasil.

Já seria ontem e anteontem, quando muitos dos que agora parecem exultar tramavam abraçados a Cunha a ruína de Dilma.

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