Heber Roberto Lopes e a síndrome de coadjuvante frustrado
Mário Magalhães
Longe que tenho andado do teatro, ignoro se sobrevive um tipo habitual nos palcos, o do coadjuvante que não se conforma com sua condição e tenta ofuscar o protagonista.
Não com a excelência de atuação, que permite a um ator que vive o Ed Mort ombrear com o intérprete do Analista de Bagé ou mesmo roubar a cena.
Mas abusando de maneirismos e trejeitos até quando seu personagem está calado num canto. Sem propósito algum, a não ser o de aparecer.
Tenho pensado na síndrome de coadjuvante frustrado ao acompanhar o desempenho de Heber Roberto Lopes.
O apitador abusa do expediente de, em vez de empregar cartões e cumprir a regra, entreter-se em conversas infindas com jogadores que adverte verbalmente.
Fala, fala, fala, seja na final da Copa América ou no clássico entre Flamengo e Corinthians.
Enquanto fala, as câmeras focam em um ou outro jogador e, é claro, no juiz.
O comportamento inusual chama a atenção.
Pródigo no conversê, Heber não consegue identificar para quem mostra o vermelho _como na decisão em Nova Jersey.
E não vê _o erro da bandeirinha não justifica_ um impedimento ostensivo de rubro-negro.
Mais: numa tesoura do Fagner sobre o Ederson, seria legítimo discutir se o alvinegro merecia cartão, amarelo ou vermelho.
Mas o soprador não deu nem falta.
Ao ver Zé Ricardo reagir com gestos, expulsou sumariamente o técnico do Flamengo. Que não disse uma só palavra ofensiva que Heber tenha percebido _ou não ofensiva, como se lê na súmula.
Não foi por esse motivo que o Corinthians goleou por 4 a 0.
Mas o fato de a expulsão insana não ter sido determinante para o placar não a torna menos grave.
Heber Roberto Lopes havia dado vexame na Copa América, onde aproveitou para aparecer muito, ao lado de Messi, Vidal e outros craques.
Como prêmio por mais um 7 a 1 do futebol brasileiro, agora com árbitro, escalaram-no para a partida entre os clubes de maior torcida do país.
Se queria aparecer, Heber conseguiu.
Ele aparenta achar que apitador tem de ser protagonista no futebol.
Não tem.
Só se torna protagonista quando abusa de bisonhices e injustiças.
Por isso, Heber Roberto Lopes deixou de ser coadjuvante.