Blog do Mario Magalhaes

A tristeza de Messi é a tristeza do futebol

Mário Magalhães

De joelhos, numa noite triste demais – Foto reprodução UOL

 

O Lionel Messi sempre teve pinta de palhaço triste, embora eu desconfie que seja mais um tímido desses que desde criança olham para o chão e não para o céu.

O palhaço diverte os outros e não se diverte. Dá alegria e vive melancolia. Não parece ser o caso do Messi.

Assim que o Biglia errou o pênalti derradeiro, e o Chile conquistou a Copa América, o Messi caminhou cabisbaixo rumo ao banco de reservas do seu time.

Não falou com ninguém pelo caminho, e ninguém ousou se dirigir a ele no instante da dor.

Para um animal competitivo, como o Guardiola o definiu, a derrota dói mais ainda.

No banco, permaneceu só, numa solidão de quem aparenta ter nascido para ser solitário.

Ao receber a medalha de prata, atestado de mais um fracasso épico, não trocou olhares com nenhum dos cartolas a quem o protocolo o obrigou a cumprimentar.

O jogador que encantou o futebol como nenhum outro de sua geração encarnou o palhaço triste que provavelmente não seja.

Alegrou o planeta com atuações soberbas nos Estados Unidos. Ganhou aplausos, ouviu ovações, colecionou devoções, sonhou conquistar enfim um título com a seleção principal _o olímpico ele já tem, ao contrário de todos os jogadores brasileiros de todos os tempos.

Terminou ajoelhado no gramado, ele que deixou tantos marcadores de joelhos e de traseiros no campo, ao superá-los em arrancadas incomparáveis.

Aos 29 anos, o homem que se sentiu rejeitado em seu país na infância e na adolescência, e acabou acolhido pelos catalães, anunciou sua retirada da seleção.

Com o lamento de quem sabe que nunca foi querido como batalhou para ser: ''Muita gente deseja isso''.

''Não é para mim'', disse sobre a seleção. ''Já tentei muito.''

Sobre o campeonato que mais uma vez escapou: ''Era o que mais desejava''.

''É uma tristeza grande'', falou sem precisar, porque estava na cara.

''A seleção terminou para mim.''

Como nas decisões de 2014, Copa do Mundo, e 2015, outra Copa América, os argentinos não conseguiram fazer um só gol.

O baixote jogou bem em Nova Jersey. Em alguns momentos, muito bem. O Díaz foi expulso no primeiro tempo por duas faltas no Messi.

Foi o Messi quem deu passe para o Agüero desperdiçar cara a cara. E acertar uma cabeçada defendida pelo Bravo com as pontas dos dedos.

Não foi o Messi quem perdeu um gol facílimo de fazer. E sim, mais uma vez, o Higuaín. Nem se escondeu, como o Di María.

Mas foi o Messi quem falhou numa cobrança de pênalti. Como falharam os gigantes Zico e Sócrates no revés frente à França em 1986.

Há muitas coisas a dizer sobre o triunfo chileno. Sobre como a equipe manteve o estilo de cultivar a bola para dominar. E sobre como o Tata Martino um ano depois foi de novo sobrepujado taticamente.

Tudo isso é importante, mas a tristeza do Messi é mais.

O grande vencedor nunca se sentiu tão derrotado.

O gênio do futebol, um dos maiores da história, afundou em sua maior tragédia.

O Messi sempre será um herói.

Mas nunca foi um herói tão trágico como na noite passada, na tragédia encenada num país que pouca pelota dá ao futebol.

Com o perdão dos chilenos, que merecem admiração e respeito imensos, a tristeza do Messi hoje é a tristeza do futebol.

E a minha também.

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