Blog do Mario Magalhaes

Os rolos de Dornelles e a ordem a Ademário

Mário Magalhães

Francisco Dornelles, hoje governador interino do Rio de Janeiro, em foto de 2014

Francisco Dornelles, o governador da calamidade – Foto Ruy Baron/Valor

 

Indagado por repórteres sobre recursos para a conclusão da linha 4 do metrô, pois os 2,9 bilhões arrancados do governo federal restringem-se a gastos com a segurança pública do Rio olímpico, Francisco Dornelles escapuliu com a ordem ao motorista:

''Vamos embora, Ademário''.

A agonia financeira e administrativa do Estado teve um efeito intrigante. Em vez de atiçar a curiosidade sobre o currículo do governador interino, relevou-o. Como se não fosse importante saber mais a respeito de quem gere a massa falida fluminense e controlará a bolada bilionária enviada por Brasília.

No dia seguinte à decretação do estado de calamidade pública no Rio de Janeiro, na semana passada, soube-se que o governador em exercício foi novamente mencionado como favorecido por dinheiro sujo. O ex-deputado Pedro Corrêa disse em proposta de dita delação premiada que em 2009 o então senador Dornelles, seu correligionário, embolsou R$ 9 milhões pagos pelo conglomerado Queiroz Galvão. Em troca, abafaria investigações de CPI sobre falcatruas na Petrobras.

No ano passado, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e corrupto confesso, já afirmara que Dornelles havia sido beneficiado por propina. O hoje governador comandou o PP, partido que indicou Costa para o cargo em que foi um dos protagonistas da roubalheira na empresa de petróleo.

A Polícia Federal quer esclarecer o possível papel de Dornelles no esquema criminoso que castigou a Petrobras. De 2007 a 2013 ele presidiu o PP. Dos 35 congressistas do partido, 21 são ou foram alvo de inquérito da operação Lava Jato. Nenhuma agremiação tem tantos deputados e senadores investigados.

Jogadas na Petrobras não são novidades na carreira de Dornelles, a julgar pelo testemunho de Fernando Henrique Cardoso. No primeiro volume dos seus diários do poder, o ex-presidente registrou que em 1996 o à época deputado federal tentou emplacar um novo diretor na estatal. Chamava-se Eduardo Cunha o apadrinhado de Dornelles. Ainda distante do apogeu político como capo da Câmara, Cunha já era manjado por armações nos tempos de Fernando Collor e Paulo César Farias. Ninguém podia dizer que tomara gato por lebre.

Dornelles aparece na lista da Odebrecht, mas a relação aparentemente contém ''doações'' legais e, as por baixo do pano, ilegais.

Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, foi mais claro em seu depoimento ao Ministério Público Federal. Contou que em 2010 encaminhou R$ 250 mil de propina a pedido de Dornelles. O dinheiro seria fruto de “vantagens indevidas''. Uma fornecedora da subsidiária da Petrobras teria pago a propina em forma de doação oficial ao PP.

Em 1988, ao anunciar a falência do Rio, o prefeito Saturnino Braga desmoralizou a honestidade, conforme a antológica tirada de Millôr Fernandes.

Tem cabimento reproduzi-la com Dornelles e seus antecessores Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral?

Se houver mais perguntas sobre seus rolos na Petrobras e na Transpetro, talvez Dornelles venha a repetir a frase que virou meme:

''Vamos embora, Ademário''.

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