Protesto em Cannes, o ‘Guardian’, primeiras páginas e jornalismo em transe
Mário Magalhães
A primeira página da edição impressa do jornal britânico ''The Guardian'' tem espaço para uma só fotografia grandona, rasgada.
Ontem, estampou artistas brasileiros protestando no mais importante festival de cinema do mundo, o de Cannes.
Cartazes em inglês e francês denunciaram o golpe de Estado que depôs a presidente constitucional Dilma Rousseff.
No dia em que historiadores e pesquisadores do jornalismo quiserem reconstituir e interpretar o ambiente nestes trópicos nesta época, deixo a sugestão: comparar a capa do ''Guardian'' com as primeiras páginas de diários do Brasil.
Em todo o mundo, não houve imagem tão relevante ou interessante, de acordo com os critérios jornalísticos que vigoram no ''Guardian''.
Aqui, lugar dos acontecimentos a que se referiram os manifestantes, a notícia tinha mais peso ainda.
Mas chegaram a omitir a foto na capa.
Na terra em transe, o jornalismo também vive o seu transe: regrediu ao partidarismo, radicalismo e sectarismo das décadas de 1940, 1950 e 1960.
É legítimo concordar ou discordar do protesto no festival.
Mas omiti-lo ou minimizá-lo implica permitir que a opinião sufoque a notícia.
Pior para a informação.
(Para quem acha papo furado, imagine o espaço no noticiário se os cartazes dissessem ''Fica, Temer! Fora, Dilma!'')