Blog do Mario Magalhaes

Memórias da sessão do Senado: anotações para um livro que nunca escreverei

Mário Magalhães

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No discurso, Collor citou Ruy Barbosa. Ruy Barbosa! – Foto Ueslei Marcelino/Reuters

 

Anotações sobre a sessão do Senado de 11 e 12 de maio de 2016, a que depôs a presidente constitucional Dilma Rousseff (formalmente, afastou-a por até 180 dias):

* O senador Acir Gurgacz, de Roraima, encheu o peito para pronunciar o nome de Leonel Brizola (1922-2004) , fundador do seu partido. Governador do Rio Grande do Sul, Brizola comandou a resistência ao golpe de Estado em 1961, em seguida à renúncia de Jânio Quadros. Tentaram impedir que o vice, João Goulart, assumisse a Presidência. Brizola foi à luta. Passaria quinze anos no exílio, perseguido pela ditadura instaurada pelo golpe de 1964. Em 1961 e 1964, o gaudério de Carazinho batalhou pela soberania do voto popular. Depois de mencioná-lo, o senador Gurgacz votou… a favor do impeachment! Brizola tremeu no túmulo.

* O senador Aécio Neves citou seu avô Tancredo. Em 1954, contra o golpe, o ministro Tancredo Neves (1910-1985) permaneceu ao lado do presidente Getulio Vargas até o fim. Em 1964, recusou-se a acompanhar a maioria dos seus correligionários e não sufragou o marechal Castello Branco para o Planalto, no simulacro de eleição promovido pelo Congresso. Nos dois episódios, manteve-se fiel às urnas. Contra golpes. Seu neto apoiou o impeachment que rasgou 54.501.118 votos. Em comum com o avô, Aécio parece ter somente o sobrenome.

* O senador Fernando Collor de Mello citou Ruy Barbosa (1849-1923). Collor, o próprio, referiu-se a Ruy Barbosa! Collor disse sim ao impeachment _o de Dilma…

* Assim que acabou o discurso de Fernando Collor, Renan Calheiros afagou-o com elogios e mesuras. A República de Alagoas vive e luta.

* O senador Magno Malta disse que o país de que tem saudade é o que ministrava OSPB na escola. Essa maldição, Organização Social e Política Brasileira, era uma matéria com o propósito de propagandear a ditadura. Por isso os liberticidas a introduziram no currículo. Também fui obrigado a assistir às mentiralhadas e baboseiras de OSPB. Ao contrário do senador Malta, não tenho saudade da ditadura e de OSPB. Magno Malta votou pró-impeachment.

* Falando em ditadura, o senador Edison Lobão, ex-deputado federal da Arena, associou-se à conspiração contra Dilma (de quem foi ministro).

* Nem só de apoiadores da ditadura se fez a sessão. Em seu voto contra o golpe, a senadora Fátima Bezerra evocou conterrâneos do Rio Grande do Norte assassinados pelos velhos agentes da repressão.

* A Ação Libertadora Nacional ''rachou'' no Senado. Dois ex-guerrilheiros da organização fundada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira escolheram lados opostos. Aloysio Nunes Ferreira fechou com a deposição da presidente. João Alberto Capiberibe foi contra.

* Nos anos 1920, os tenentes empreenderam levantes e movimentos contra quem chamavam de ''políticos carcomidos''. A sessão no Senado deu impressão de que o tempo não passou e estacionamos um século atrás.

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