Blog do Mario Magalhaes

Nem com impeachment iminente Dilma abandona política que frustrou eleitores

Mário Magalhães

Posse em 2015: ela teve votos para presidente; ele, para vice – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

No que depender da poderosa coalização formada para interromper o mandato presidencial antes do prazo estabelecido pela Constituição, Dilma Rousseff está a poucos dias de ser deposta.

O Senado, em caso de votação majoritária pelo impeachment, afastaria a presidente por seis meses, até julgamento definitivo.

Nem a iminência da degola fez Dilma abandonar a política econômica que frustrou a imensa maioria dos eleitores que a consagraram com a reeleição em outubro de 2014.

Em vez de implementar a plataforma alardeada nos palanques, ainda que com adaptações impostas pela conjuntura internacional, o governo adotou a essência do programa defendido pelo candidato Aécio Neves.

Isto é, aderiu à agenda derrotada nas urnas pelos cidadãos.

O arrocho em curso, ainda que disfarçado com a embalagem de ''ajustes'', piora a crise e sacrifica sobretudo aqueles que Dilma prometera proteger: os brasileiros mais pobres.

O desemprego se alastra (ainda que aquém da obscenidade de outrora), a renda cai (idem), direitos são retirados (idem), a saúde é sucateada (idem), os perrengues amenizados de 2003 a 2014 se agravam.

Para enfrentar o golpe de Estado (impeachment sem crime é golpe) comandado pelos derrotados das últimas quatro eleições, é fundamental para Dilma mobilizar mais e mais gente.

Com a política recessiva, a despeito de uma ou outra boa notícia ao dito andar de baixo, tal desafio fica muito mais difícil.

A persistência ou teimosia com a orientação rejeitada na eleição constitui suicídio político.

Ainda mais à beira do cadafalso.

Para a história, sobreviverá a pergunta, sobre a qual os historiadores se debruçarão por décadas: por que Dilma procedeu assim?

Alguns tentam explicar com o cerco sofrido desde antes de o segundo mandato começar.

O cerco é fato. Mas cerco se combate. A retranca chama o adversário, encoraja-o. Antecede o revés.

Foi o que aconteceu.

É o que acontece.

P.S.: o possível governo Michel Temer, com as previsíveis medidas antissociais, fará os brasileiros tratarem o arrocho de Dilma como arrochinho.

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