Não foi onda o que derrubou a ciclovia, e sim desprezo pela vida humana
Mário Magalhães
Era só o que faltava botarem a culpa no mar pela desgraça que se abateu ontem no Rio, quando um trecho da ciclovia Tim Maia desabou e ao menos duas pessoas foram mortas.
A obra na avenida Niemeyer foi inaugurada no dia 17 de janeiro, com a presença do prefeito Eduardo Paes, como documentou o fotógrafo Custódio Coimbra na foto no alto. Durou pouco mais de três meses.
As empresas que construíram a pista que ruiu, Contemat e Concrejato, pertencem a parentes do secretário de Turismo, Antônio Pedro Viegas Figueira de Mello.
O secretário-executivo de governo, Pedro Paulo, disse que ignorava o vínculo de Figueira de Mello com as empresas.
''Pode ter sido subestimado o efeito da maré e das ondas que batem aqui no costão da Niemeyer'', afirmou pedro Paulo.
O óbvio: ou houve erro de projeto ou de execução ou os dois.
O que Pedro Paulo omite: a prefeitura tem o dever legal de fiscalizar a empreitada. Em qualquer hipótese sobre erro técnico, a administração municipal falhou.
Em viagem, o prefeito Eduardo Paes classificou como ''imperdoável'' o desabamento.
Será que se referia à entrega da ciclovia sem condições de suportar a ressaca habitual?
Em 2015, Paes alegou ignorar trabalho análogo à escravidão no canteiro de obras da vila olímpica dos atletas.
O prefeito considera que a poluição da baía de Guanabara, onde haverá competição de vela, não é tema olímpico.
A Prefeitura do Rio tem marketing demais e cuidado de menos com valores caros à existência, sobretudo o maior, a vida.
Erguer uma ciclovia tão frágil como a da avenida Niemeyer é de fato imperdoável.
As responsabilidades eventuais de Paes e seu correligionários do PMDB têm mais sócios.
Um sem-número de partidos o apoiou na eleição de 2012 e integra o secretariado. Inclusive o PT, com militantes sentados nas cadeiras de vice-prefeito e de secretários municipais.