Esqueceram como votou a esmagadora maioria dos deputados que deram vexame?
Mário Magalhães
Dizem que o brasileiro não tem memória. Discordo. Tem, e de vez em quando ela surpreende quem a subestima.
Padecemos, isso sim, do mal da memória seletiva. Quanto mais o passado incomoda, mais o pessoal o elimina das lembranças.
Ainda que seja o passado recente, da véspera.
Exemplo eloquente é o da votação da Câmara autorizando a instalação no Senado do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Milhões e milhões de brasileiros tiveram cinco dias atrás um choque com as declarações de voto de numerosos deputados.
Um tal de oferecer o voto ao marido, à mulher, aos filhos, aos netos… A presidente da República perfilada como a grande inimiga da família nacional.
Com direito a certa deputada incensar o marido prefeito que no dia seguinte iria em cana numa investigação sobre serviço de saúde.
Na mesma segunda-feira, muita gente boa malhava o vexame do domingo, porém omitia o que não é pormenor, mas aspecto relevante: como votou a esmagadora maioria dos deputados que fizeram um papelão ao microfone da Câmara?
Perdão pelo registro incômodo: votou pelo impeachment de Dilma Rousseff.
No futuro, os historiadores contarão em detalhes como foi a sessão presidida por Eduardo Cunha.
Quem quiser ir mais fundo estudará a amnésia repentina de quem avacalhou os deputados, mas se esqueceu que estava ao lado deles no mais importante, a defesa da deposição da presidente constitucional.