594 poderem revogar decisão de 112.683.879 cidadãos é tragédia democrática
Mário Magalhães
No finzinho de outubro de 2014, 112.683.879 cidadãos participaram do segundo turno eleitoral.
Dilma Rousseff reelegeu-se presidente, vencendo Aécio Neves.
A petista recebeu 54.501.118 votos, vantagem de 3.459.963 (ou 3,28 pontos percentuais) sobre o tucano Aécio Neves.
O placar é o de menos, comparado ao mais grave: no domingo, a Câmara de 513 deputados pode aprovar o andamento do processo de impeachment de Dilma, que seria a seguir votado pelo Senado.
Se um governante comete crime de responsabilidade, o impedimento decidido por representantes do povo é legal e legítimo.
Quando inexiste tal crime, o cartão vermelho equivale a condenar um inocente por homicídio.
O crime de homicídio consta do Código Penal, mas exige provas. Condenar sem elas fere a lei.
O pretexto das ''pedaladas fiscais'' é isso mesmo, pretexto. Essas manobras contábeis não constituem, para dizer no popular, roubo de dinheiro público. E foram praticadas por governantes de todos os maiores partidos.
Motivados por interesses que um dia historiadores vão esquadrinhar à exaustão, preparam a deposição da presidente que não é autora de crime algum.
Pode-se achar o governo dela ótimo/bom, ruim/péssimo, mais ou menos, o que for.
Acontece que presidente se elege nas urnas. 2018 está aí para votar a favor ou contra @ candidat@ apoiad@ por Dilma.
Se o impeachment progredir entre os 513 deputados, logo será a vez de 81 senadores se pronunciarem.
Deputados e senadores têm prerrogativas para muitas coisas.
Não para substituir governante eleit@ pelos cidadãos e que não cometeu crime.
Neste caso, o impeachment tem outro nome: golpe.
A propósito, a charge da Laerte lá no alto é de novembro de 2014.
Um mês depois da eleição, a brilhante cartunista já identificava o ovo da serpente.
Querem trocar um colégio eleitoral de quase 113 milhões para um (ou dois, Câmara e Senado) de 594.
Em vez de diretas, indiretas.
Para ungir presidente o vice que no Datafolha alcança míseros 2% de intenção de votos.
Uma tragédia. Tragédia da democracia.