Vale o vazado? Temer imporia ‘muitos sacrifícios’ e calaria sobre corrupção
Mário Magalhães
No ensaio de discurso para a eventual iminência de se tornar presidente da República, Michel Temer pronunciou três vezes a palavra ''sacrifícios''.
''Muitos sacrifícios'', enfatizou, na gravação distribuída por celular (aqui).
É o cenário que espera os brasileiros caso Dilma Rousseff venha a ser deposta por meio de impeachment.
Sabe quantas vezes apareceu a palavra ''corrupção'' no áudio conhecido ontem?
Nenhuma.
Se vale o vazado, um possível governo Temer sacrificaria a vida dos cidadãos _como sempre, sofreriam mais os mais pobres.
E deixaria para trás o tema da corrupção. Mais propriamente, o combate a ela.
Num aspecto, o dos sacrifícios, inexistiria maior novidade em relação ao segundo mandato de Dilma (Dilma-Temer, a rigor).
A presidente impõe sacrifícios a quem, por 12 anos (2003-2014), conseguiu amenizar a miséria e a pobreza atávicas.
O que o vice aspirante a titular indica é que apertará ainda mais o arrocho impiedoso que atende pelo eufemismo de ''ajustes''.
O silêncio sobre a corrupção representaria regressão se comparado a Dilma, que reiteradamente trata do assunto.
Temer não citou a Operação Lava Jato.
Seria falar em corda na casa de enforcado. Os líderes da conspiração pelo impedimento de Dilma são investigados, suspeitos, denunciados ou réus em processos de corrupção.
Eis a receita do ''governo de união nacional'' almejado por Michel Temer: ''muitos sacrifícios'' e o esquecimento da corrupção que maltrata o Brasil.
O discurso apressado do vice pode ser observado de várias maneiras.
É uma pena que seu conteúdo, tão revelador, venha sendo minimizado.