Blog do Mario Magalhaes

Um bom filme sobre jornalismo, duas lições e a ‘inauguração’ do presidente

Mário Magalhães

Cate Blanchett e Robert Redford em ''Conspiração e Poder'' – Foto reprodução

 

Há um bom filme sobre jornalismo nos cinemas. ''Conspiração e Poder'', com roteiro e direção de James Vanderbilt, só não é ótimo porque toma excessivamente partido de uma equipe de jornalistas que cometeu um erro grave.

O filme conta a história da produção, exibição e repercussão de uma reportagem no programa ''60 Minutes 2'', da emissora norte-americana CBS. De acordo com o que parecia uma revelação bombástica, o presidente George W. Bush teria sido favorecido na prestação do serviço militar, na década de 1970. Em 2004, quando a matéria foi ao ar, Bush concorria à reeleição.

A coordenadora da apuração foi a produtora Mary Mapes, interpretada por Cate Blanchett. O âncora que apresentou a reportagem foi o legendário Dan Rather, vivido por Robert Redford.

Havia inegável interesse público, portanto relevância jornalística, na informação.

O problema é que ela se baseada em documentos falsos. A TV disse mais tarde que não podia comprovar a autenticidade dos papéis. Dava no mesmo: veicularam como fato o que não era possível bancar.

O erro destruiu a carreira de Mapes e abreviou a de Rather, ambos alvo de uma poderosa e fanática turba direitista que os acusou de terem agido de propósito contra Bush.

Uma primeira e óbvia lição do filme é que a pressa na investigação jornalística convida a tropeços. Não cumpriram os requisitos elementares de ceticismo e checagem.

Outra é relativa a hipocrisia: jornalistas íntegros foram demonizados, enquanto a esmagadora maioria do jornalismo dos Estados Unidos difundiu por anos uma mentira muito mais grave. A que dava conta de que o Iraque possuía armas de destruição em massa. Essa lorota levou milhões de cidadãos a apoiar os ataques impiedosos dos EUA que mataram multidões de civis. O que aconteceu com tantos jornalistas que endossaram a cascata da Casa Branca? Nadica de nada.

As legendas do filme irritam demais. Na tela, a tradução de ''story'' é sempre ''história'', quando o correto seria ''reportagem'' ou ''matéria''.

A palavra ''inauguration'' foi traduzida como ''inauguração''. Era a ''inauguration'' do presidente. Ou seja, posse.

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