Telê treinou Cruyff, tentou trazê-lo para o Brasil e reclamou do cigarro
Mário Magalhães
Foi-se Johan Cruyff, um dos maiores gênios da história do futebol. Gracias, viejo!
Outro gigante, Telê Santana, partiu antes, em 2006.
Os dois se admiravam e se gostavam.
Na Copa de 1982, em que trabalhou como comentarista, o holandês entrevistou o brasileiro.
Ao ouvir a queixa de Cruyff sobre a exigência de diplomas e certificados para exercer em seu país a profissão de técnico, que pretendia seguir depois de pendurar as chuteiras, Telê não titubeou: tentou trazê-lo para comandar o Fluminense.
O tricolor das Laranjeiras, no qual havia sido jogador e treineiro, era o clube de coração de Telê.
Cruyff e os cartolas do Rio conversaram por telefone, mas o holandês considerou muito baixo o padrão salarial no Brasil.
No encontro na Espanha, Telê sugeriu a Cruyff que parasse de fumar.
O europeu ainda prorrogou a carreira, defendendo o Feyenoord em 1983 e 1984.
Nessa época, enfrentou num amistoso o Al-Ahli.
Quem era o técnico do time saudita? Telê.
Num tempo, Cruyff jogou pela equipe holandesa. Noutro, pela de Telê.
Como o mineiro o orientou? ''Não precisava. Iria dizer o quê?''
No intervalo, ao ver o astro do carrossel de 1974 fumando, o militante antitabagista Telê não resistiu e disse (ignoro em que idioma): ''Para com isso, Cruyff!''
Como eu sei dessas histórias?
Telê Santana me contou, em 1992, às vésperas de enfrentar o Barcelona treinado por Cruyff no Mundial Interclubes.
Deu São Paulo, dirigido por Telê, 2 a 1.
Cruyff morreu, leio no UOL, de câncer no pulmão.
Saudade de Telê, e já saudade de Cruyff.
A herança mais generosa da ideologia iluminista do futebol foi deixada por eles e seus mestres.