Blog do Mario Magalhaes

Sérgio Moro e o ensaio de um Donald Trump à brasileira

Mário Magalhães

São Paulo SP Brasil 27 10 2015 MERCADO Seminário The Economist Com a presença de políticos, acadêmicos e os principais líderes empresarias brasileiros, seminário em São Paulo no no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo, as 12 hs Sergio Moro 13 hs Pedro Moreira Salles (Itau) Pedrdiscutirá as perspectivas econômicas e os desafios políticos do país. o Brazil Summit 2015 propõe a construção de uma agenda de transformação para a retomada econômica do país. O evento é organizado pela The Economist. Foto Jorge Araújo FolhaPress 703 ORG XMIT: XX

O juiz Sérgio Moro – Foto Jorge Araújo/Folhapress

O bilionário Donald Trump – Foto Stephen B. Morton/AP

 

Nas aparências, existem poucas semelhanças entre Donald Trump e Sérgio Moro. Lá, o histrionismo; aqui, a sisudez. O bilionário com uma alegoria frondosa sobre o couro cabeludo, o juiz com o cabelo cortado no padrão barbeiro da esquina. O norte-americano com ambição de se eleger presidente, o brasileiro cuidando dos seus afazeres protocolares na Justiça.

Olhando mais de perto, os dois têm em comum o talento para usar os meios de comunicação. Trump aprendeu, ou deslanchou, como apresentador de TV. Na Operação Lava Jato, Moro é endossado por uma rede midiática que o aplaude mesmo com investigações seletivas sobre corrupção, em que alguns parecem esquecidos.

Até ontem, talvez as pretensões eleitorais do magistrado fossem apenas hipótese nos vários cenários especulados para o futuro próximo. Não havia um gesto tão explícito de Moro falando diretamente às multidões que o ovacionam. Ele foi aclamado como nunca, neste domingo em que ao menos centenas de milhares de pessoas foram às ruas pedindo a deposição da presidente constitucional Dilma Rousseff.

Mas a reverência a Moro não foi novidade. O que houve de novo foi sua manifestação, não nos autos de processo, mas dirigindo-se à massa que gritou seu nome. No sábado retrasado, ele havia se pronunciado sobre a dita condução coercitiva do ex-presidente Lula, mas em tom menos político. Eis a nota que o juiz distribuiu ontem:

''Neste dia 13, o povo brasileiro foi às ruas. Entre os diversos motivos, para protestar contra a corrupção que se entranhou em parte de nossas instituições e do mercado.

Fiquei tocado pelo apoio às investigações da assim denominada Operação Lavajato. Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário.

Importante que as autoridades eleitas e os partidos ouçam a voz das ruas e igualmente se comprometam com o combate à corrupção, reforçando nossas instituições e cortando, sem exceção, na própria carne, pois atualmente trata-se de iniciativa quase que exclusiva das instâncias de controle. Não há futuro com a corrupção sistêmica que destrói nossa democracia, nosso bem estar econômico e nossa dignidade como país''.

A pegada é mais de líder político que de magistrado, sem entrar no mérito do justo, necessário e urgente combate à corrupção _mas sem preservar larápio algum.

Se intervenções dessa natureza prosperarem, ficará mais forte o perfil de Sérgio Moro como possível postulante à Presidência da República.

Sérgio Moro candidato, aí sim, teria muito a ver com Donald Trump.

A condição de pária dos esquemas partidários, a pregação contra o establishment republicano (sua agremiação) e democrata, a insistência no perfil de outsider (como se um homem com sua fortuna pudesse ter prosperado contra o ''sistema''), tudo isso forjou o poderoso candidato Donald Trump. Para seus apoiadores, ele surge como a negação dos desgastados mandachuvas da política dos Estados Unidos.

Ninguém no Brasil encarnaria essa figura de ''diferente de tudo o que está aí'' como Sérgio Moro. Não que a imagem tenha necessariamente lastro nos fatos. Mas o juiz não é filiado a partido, não se conhece militância partidária dele, que é reconhecido como o herói do combate à corrupção.

Se Trump se vende como vingador dos que não têm voz na política, Moro veste o figurino do justiceiro contra a bandalheira.

As Jornadas de Junho de 2013 rejeitaram políticos em geral. Moro seria a solução para quem quer alguém ''de fora'', chance que Marina Silva não soube aproveitar em 2014, embora permaneça como candidata competitiva numa disputa presidencial (ela concorreria contra Moro?).

Como Trump, Moro seria um candidato à direita. Quem aclamou Bolsonaro ontem _mas não somente essa turma_ saudou também o juiz.

Moro não tem nem partido, pode-se argumentar. Trump vem mostrando que isso se resolve.

A história contará se a nota de ontem do juiz foi um discurso com tom jurídico-político avulso ou um marco de construção de candidatura.

Se houver impeachment de Dilma, Michel Temer assumirá, e não haveria eleição direta antes de 2018.

Vamos ver o que a Lava Jato dirá, ou não, nos dias vindouros sobre Eduardo Cunha e Renan Calheiros, os capi do Congresso.

Na Paulista, os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram postos para correr, bem como a neopeemedebista Marta Suplicy. Quem foi às ruas está com Moro. Até o PSDB é vaiado, não tanto quanto o PT, claro.

O destino de Dilma não será decidido pelos manifestantes do domingo, mas por gente como Renan e Cunha.

Num cenário eleitoral de Aécio Neves contra Lula, os manifestantes de ontem votariam no mesmo Aécio apupado no domingo.

Na sexta-feira, Lula liderará ato a favor da democracia e contra o golpe.

A situação de Dilma é dramática, mas o jogo, ao contrário do que tanto ouvi e li, ainda está sendo jogado.

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