Blog do Mario Magalhaes

Dilma rumo ao suicídio político: ou a presidente reage ou golpe a derruba

Mário Magalhães

Em 1º de janeiro de 2015, a posse no segundo mandato – Foto Pedro Ladeira /Folhapress

 

Resta pouca areia na parte de cima da ampulheta de Dilma Rousseff.

Se a presidente constitucional, eleita democraticamente por 54.501.118 brasileiros, mantiver a desastrosa política do seu segundo mandato, cairá fulminada por um golpe de Estado.

Como inexiste prova de crime cometido por Dilma, se ela for afastada, o que haverá é golpe.

Golpes de Estado violentam a soberania do voto popular, pilar da democracia.

Por mais eufemismos que os embrulhem, como a alegada ''defesa da ordem constitucional'' (em 1964, esse pretexto foi muito ouvido; na verdade, estupraram a Constituição e instauraram uma ditadura).

Podem ocorrer com tanques na rua, como em 1937, ou num arranjo golpista que prescinda das armas.

A deposição de Dilma representaria um mastodôntico retrocesso institucional.

Eis a mensagem golpista: danem-se as urnas, existem caminhos mais espertos para alcançar o governo.

Golpismo e golpistas

Não confundamos responsabilidades. Na hipótese da derrubada de Dilma, a culpa essencial seria dos golpistas.

Desde 26 de outubro do ano retrasado, o domingo em que Dilma (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, uma turma intolerante reivindica a deposição da governante legal e legítima.

Ainda em 2014 _com a presença de viúvas da ditadura, nostálgicos do integralismo e veteranos da TFP_, São Paulo assistia a manifestação pelo ''fora, Dilma''.

O boicote à sua administração disseminou-se, inclusive na Câmara dos Deputados. O correntista Eduardo Cunha consagrou-se como o muso do impeachment.

A presidente pareceu não notar quando a pregação de alucinados de extrema-direita vitaminou-se, aproveitando os enganos de Dilma Reloaded e a ruína nos índices de aprovação popular ao governo.

Ao subestimar o DNA golpista de trincheiras poderosas da vida nacional, Dilma não mostrou resistência à altura, ao menos até agora. Esse erro político lhe custa caro.

Mas nenhum é maior do que abandonar os compromissos assumidos em palanque na campanha reeleitoral. Dilma prometeu governar para os mais pobres, e ninguém paga mais do que os pobres pela crise que assola o país. A questão não era somente Levy, nem é Barbosa, ministro que mantém o arrocho do antecessor. É Dilma quem manda. Ela adotou a orientação econômica proposta por Aécio em 2014. Quantos eleitores de Dilma estarão dispostos a defendê-la nas ruas, se ela faz o que disse que não iria fazer? Há quem pense: se é para governar à direita, existem motorneiros mais habilitados do que Dilma.

É inegável que o cenário econômico internacional dificulta. Com o preço do minério de ferro e do petróleo em baixa, pior para a Petrobras, já abalada pela roubalheira e pela Operação Lava Jato, e para as contas do país exportador de commodities. A China desacelera? Sim. O compromisso da presidente, contudo, é proteger, em qualquer situação, os mais fracos. Os banqueiros, com juros ascendentes, ficaram mais ricos. Os trabalhadores, mais pobres.

Inépcia e inabilidade

A inépcia administrativa do governo se combina com a inabilidade política da presidente. São tantos exemplos, limito-me a dois.

Nos três primeiros meses do atual mandato, o ministro das Relações Institucionais foi Pepe Vargas. Pelo que ouço, trata-se de homem decente. Mas politicamente é pequenininho demais para a função em que foi escalado, e logo a deixou.

Sob cerco furioso da turba que pretende depô-la, e com seu aliado Lula acossado por perseguidores seletivos, Dilma está de fato sem ministro da Justiça.

Ninguém a advertiu para a possibilidade de se tornar um imbroglio judicial a nomeação do promotor Wellington César Lima e Silva? Não o conheço, pode ser cidadão digno e qualificado. Porém, ele não é o nome certo para o momento. Ainda que não tivesse a condição funcional como empecilho para permanecer ministro. Numa conflagração como esta, o ministro da Justiça deveria ser um jurista (ou quadro do mundo do direito) de projeção, e não alguém que, por mais íntegro, gere a seguinte pergunta ao ter o nome pronunciado: quem é?

Será que o ambiente bajulatório em torno de Dilma é tal que nenhum adulador lhe alerta para obviedades como a relevância do Ministério da Justiça?

A presidente aparenta estar alheia ao cadafalso político que montam para liquidá-la.

Reitero: suicídio não é só físico, como o de Getulio Vargas em 1954.

Pode ser político.

Nada disso é novidade. A novidade é que a hora do vamos-ver se aproxima dramaticamente.

Bola cantada

Em maio de 2015, pouco mais de quatro meses depois da posse, o blog anotava: ''Houve [na Câmara] uma derrota política monumental de quem governa graças ao compromisso de melhorar, e não piorar, a vida dos que mais sofrem com a obscena desigualdade social do Brasil. Tropeços no Congresso acontecem. A verdadeira derrota é abandonar quem se habituou ao abandono. Parece suicídio''.

Em agosto de 2015: ''Diante da ameaça de opositores dispostos a rasgar a Constituição, Dilma e seus partidários ofereceram mais da mesma receita que levou a vitoriosa de outubro a não ser aplaudida hoje nem por dez em cada cem brasileiros. Além de não honrar o programa que apresentou aos cidadãos, a presidente parece empenhada em um suicídio político. Brinca com fogo e não aparenta sentir o calor das labaredas. Dificilmente ela sairá das cordas se não recuperar o apoio da base social que a reelegeu. Com mais 'ajuste', isso não ocorrerá''.

Setembro de 2015: ''Ao contrário do que ecoa um discurso midiático quase único empurrando Dilma à ruptura definitiva com aqueles que a bancaram pelo voto em outubro, a presidente conserva a capacidade de reagir. Mas, se radicalizar na política à direita, pode caminhar para o suicídio político. Há muitas maneiras de se entregar. Uma delas é aceitando o inaceitável, a adesão do Executivo às ideias e ao modelo rejeitados democraticamente pela maioria dos brasileiros. Se não mudar, Dilma arrisca-se a acabar sozinha, atropelada por um retrocesso institucional catastrófico. Cadê a coragem que a vida quer da gente?''

Outubro de 2015: ''Ao romper consigo mesma (ou com o que dizia), a presidente, em vez de frear, estimula segmentos que historicamente não reconhecem a soberania do voto popular. Como já dito no blog, ela age como o time que se retranca, chama o adversário para cima e padece com o sufoco. Como também observado aqui, este ensaio de suicídio político resulta no abandono da presidente pelo colchão social que a respaldava. De cada dez brasileiros, apenas um considera ótimo ou bom o governo Dilma Reloaded. Ela dilapidou boa parte do seu enorme patrimônio eleitoral''.

Basta observar os índices sociais para saber que o Brasil de hoje é, para a maioria da população, melhor que o de 14 anos atrás.

No segundo governo Dilma, vão regredindo as conquistas da era Lula e da primeira administração da presidente.

Dezenas de milhões de cidadãos votaram em Dilma.

Para mobilizá-los ao seu lado, a presidente precisa dar uma virada em seu governo.

Como? Honrando as promessas de 2014, protegendo quem é mais desprotegido.

Ainda é tempo de a presidente reagir, mas seu tempo está acabando.

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