O erro de Moro
Mário Magalhães
Desde o início a Lava Jato considera o óbvio, que o apoio da opinião pública influencia os propósitos da operação.
Para convencer a opinião pública, o endosso dos meios de comunicação costuma ser decisivo.
Tudo ia muito bem, no olhar dos protagonistas da Lava Jato, até a ''condução coercitiva'' do ex-presidente Lula para depor na sexta-feira. Para muita gente, o palavrão entre aspas foi interpretado como prisão sumária.
Muitos juristas e cidadãos, inclusive alguns sem simpatia por Lula, consideraram ação autoritária e arbitrária levar na marra para uma delegacia da Polícia Federal quem já havia se disposto a depor sem ser conduzido sob vara.
Uma coisa é combater a corrupção e investigar gatunos, outra é abusar do poder.
Se havia alguma dúvida sobre a imagem que ficou do aparato de policiais armados na porta do prédio de Lula em São Bernardo _não em Paris_, o juiz Sérgio Moro mostrou que entendeu o que se passara.
No sábado, dia raro para juiz de direito divulgar nota, ainda mais se manifestando sobre autos de processo ou inquérito, Moro buscou ''esclarecer'' por que determinara a ''condução coercitiva''.
Pela primeira vez, não transmitiu força, e sim fragilidade.
Moro ofereceu ao ex-presidente uma, como hoje se diz, narrativa em que Lula aparece como perseguido.
Se é ou não, eis um bom debate.