Pobre não entra: maior vergonha do zoológico seria virar programa vip
Mário Magalhães
Hoje faz 44 dias que o Jardim Zoológico do Rio está fechado.
Tamanhos o descaso da prefeitura com os animais e o abandono do lugar, o Ibama o interditou em 14 de janeiro.
Claro que as autoridades prometeram tocar rapidinho as obras que permitiriam a reabertura.
Ontem, em mais uma vistoria, o Ministério Público Federal constatou que ainda há muita coisa a ser feita. Os cariocas seguem sem o zoológico.
Ir à Quinta da Boa Vista visitar os bichos é aqui um tradicionalíssimo programa, como lembrei outro dia.
Mais que isso, é um passeio bem mais democrático que muitos outros. A Quinta fica na zona norte, e o ingresso não é tão salgado como em tantos locais de lazer.
Adulto paga R$ 10, criança, R$ 5, e, se tiver menos de um metro de altura, nada.
Ir ao zoológico é o que se chama de programa popular.
Verão com zoológico fechado não rende escândalo por isso mesmo, por ser programa povão.
O desdém da administração municipal não se deve somente ao gosto por construções que atraiam público mais endinheirado.
Faz parte do projeto de entrega do zoológico à iniciativa privada. Quanto mais caído este fica, mais atraente se torna a ladainha pela privatização.
Um edital de ''concessão ao setor privado'' foi lançado, parece que vem outro.
Prevê-se ingresso a R$ 15 neste ano, alcançando R$ 35 em 2018.
Tudo isso, ufana-se a prefeitura, porque ''um novo conceito de parque será adotado''.
O zoológico terá até tirolesa.
O concessionário será obrigado a investir mais de R$ 60 milhões.
O ''obrigado'' é relativo, como evidenciam concessões em que gestores públicos camaradas aliviam os ditos parceiros particulares.
Nós já vimos esse filme, bem pertinho da Quinta, no estádio do Maracanã.
É uma beleza, tratam-no até por ''arena''.
Só que os torcedores pobres que frequentavam o estádio desde 1950 foram expulsos.
Porque o preço dos ingressos, até para peladas insossas, é alto demais.
Uma família com três filhos estudantes pagaria hoje, com o zoológico aberto, R$ 35.
Quando o ''parque'' estiver bombando, R$ 122,50.
Se o plano for adiante, um dos ''legados'' desses dias olímpicos será privar os cariocas de um dos seus mais arraigados programas populares.
Podem dizer: quem investe quer retorno.
Eu digo: para que privatizar o zoológico, quando a prefeitura torra fortunas em obras não prioritárias?
Ainda que fosse para privatizar, por que escolher um modelo de novo-rico, em vez de revitalizar o bom, velho _e barato_ zoológico da Quinta?