Eleição de Picciani não é vitória de Dilma. Ele retrata fracasso do governo
Mário Magalhães
A eleição do deputado Leonardo Picciani para líder do PMDB na Câmara só na aparência, ou considerando o pragmatismo mais reles, constitui vitória da presidente da República.
O derrotado, Hugo Motta, era o preposto de Eduardo Cunha, principal conspirador pró-impeachment.
Cunha e Picciani não votaram na petista Dilma Rousseff para presidente, mas no tucano Aécio Neves.
Se Cunha representa valores e expedientes manjados, o ainda pouco conhecido Leonardo não faz feio no cotejo.
Ele honra a condição de componente da família Picciani, que até outro dia tinha como figura de maior projeção o pai de Leonardo, Jorge Picciani. Um dos mandachuvas do PMDB do Rio, o pai pecuarista preside a Assembleia Legislativa.
A relevância, para o Planalto, da escolha do líder do PMDB escancara a enorme dependência do governo em relação a uma bancada que não chega a ocupar 15% das cadeiras da Câmara.
O PMDB, com Leonardo Picciani, Hugo Motta ou outro qualquer, sabe cobrar a fatura, tem expertise nesse departamento.
Sempre na defensiva, o governo, em vez de mobilizar o eleitorado que sufragou o programa da campanha presidencial, rende-se aos peemedebistas.
Como explicar um ministro como o da Saúde? Parecem pensar assim: se o PMDB quer Marcelo Castro, dane-se a nomeação de alguém muito mais qualificado para cuidar da saúde dos cidadãos…
A capitulação programática de Dilma Rousseff não é novidade.
Mal tinha sido eleita, a presidente trocou a agenda econômica que defendeu nos palanques pela do adversário do segundo turno.
Semanas atrás, ela foi à Câmara propagandear ideias opostas às que lhe proporcionaram a reeleição. São propostas no mesmo espírito das que o PMDB divulgou há meses e às que o PSDB advoga e implementa faz anos. Quase sempre, sacrificando ainda mais a vida dos assalariados e dos brasileiros mais pobres.
Picciani e sua turma apresentarão a fatura, alta. De certo modo, Eduardo Cunha lhes é útil, ao valorizar quem, no PMDB, proclama fidelidade ao governo.
Quanto maior a ''dívida'' com o PMDB ou parte dele, pior para as políticas sociais, pior para o Brasil.
Um a um, vão regredindo os progressos e as conquistas acumulados nas duas administrações Lula e na primeira de Dilma.
A impressão de que Dilma ganha com Picciani é ilusória, contempla a superfície.
No fundo, descortina-se o fracasso de um governo que nem de longe faz o que prometeu fazer.
Picciani é retrato da derrota de Dilma, ao menos da Dilma escolhida em 2014 pelo voto popular soberano.