Jornalismo: ‘Matéria de PMDB’
Mário Magalhães
Houve um tempo, os anos 1990, em que nas conversas numa das maiores redações jornalísticas do Brasil se empregava amiúde a expressão ''matéria de PMDB''.
Não somente em relação a reportagens a respeito do Partido do Movimento Democrático Brasileiro e seus integrantes.
Valia para toda e qualquer editoria, da que tratava de automóveis à de esportes.
''Matéria de PMDB'' queria dizer sobretudo reportagem ou notícia enfadonha que seria lida por pouquíssimos leitores, e olhe lá.
Muitas vezes também tinha o sentido de desimportante.
Nesse ponto, é possível que houvesse engano. Porque desde o desembarque de Cabral, ainda que com outras denominações, o PMDB quase sempre influenciou e compartilhou o poder. Foi e é importante.
Como exemplifica Renan Calheiros. Hoje figura de proa da República e aliado do governo da petista Dilma Rousseff, o senador exerceu o poderoso posto de ministro da Justiça na administração do tucano Fernando Henrique Cardoso.
Lembrei do passado por conta do frenesi jornalístico em torno da eleição de hoje do líder peemedebista na Câmara.
Inexiste dúvida de que a refrega tem de fato relevância jornalística.
Mas é deprimente o país depender do PMDB para saber se a soberania do voto popular corre mais ou menos risco.
''Matéria de PMDB'' não funciona mais como a metáfora de outrora.
O PMDB manda pra chuchu, muita gente quer e precisa saber das novidades.
Tristes tempos.