Blog do Mario Magalhaes

Retrato do Brasil

Mário Magalhães

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Boleiros do Clube dos Caiçaras – Detalhe de foto de Fernando Lemos, ''O Globo'', 14.fev.2016

 

Os garotos da foto trabalham aqui no Rio como boleiros, ou apanhadores de bolas de tênis, no Clube dos Caiçaras.

Ou melhor, trabalhavam.

O Ministério Público do Trabalho identificou como trabalho infantil a atividade de mais de 20 adolescentes de 14 e 15 anos, e o _de fato_ trabalho foi interrompido há meio ano.

O Caiçaras alega que dava apoios diversos aos boleiros, inclusive escolar. E que em gorjetas eles podiam ganhar uns mil reais por mês. Fora do clube, perdem o dinheiro e a ajuda.

O imbroglio foi revelado na semana passada pelo jornalista Ancelmo Gois.

Desconheço muitas informações, por isso não posso julgar.

Mas sei que o Brasil que não abandona os mais fracos e pobres deve muito a procuradores que, até com o sacrifício da vida, têm batalhado contra condições indignas e ilegais de trabalho.

Cheguei a ler que a chance de os meninos se tornarem grandes jogadores de tênis terminou por culpa do MPT.

Falso. Jovens humildes não costumam se tornar tenistas profissionais porque tal esporte, no Brasil, é quase exclusividade da classe média para cima.

E nada impede o clube localizado na lagoa Rodrigo de Freitas de abrir suas portas para os antigos boleiros, em vez de apanharem bolas, passarem a aprender e treinar como jogadores. Ou impede?

É possível que haja um acordo, e os garotos ganhem o estatuto de aprendizes. O trabalho no país é vedado a menor de 16 anos, salvo na condição de aprendiz.

O que mais me impressionou foi a fotografia de Fernando Lemos, publicada na primeira página de ''O Globo'' deste domingo.

Todos os boleiros são negros ou mestiços.

E ainda tem gente proclamando democracia racial, ausência de racismo e outras balelas.

É obsceno comparar ''méritos'' quando as oportunidades são tão desiguais.

Até quando o lugar de meninos negros será somente fora das quadras, apanhando bolas de tenistas brancos?

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