Barcelona vira mistura de Globetrotters, All-Star Game e Time dos Sonhos
Mário Magalhães
Os Harlem Globetrotters são, como se sabe, uma equipe norte-americana de basquete que se dedica a jogos de exibição mundo afora. Com farto repertório de jogadas espetaculares, sobretudo enterradas, seus integrantes parecem malabaristas, trapezistas, equilibristas. De algum modo, são mesmo artistas circenses. Para eles, o basquete é menos competição e mais entretenimento.
O All-Star Game reúne uma vez por ano a nata da NBA. Os melhores jogadores do planeta se enfrentam em partida amistosa. Todos querem vencer, mas a festa prevalece. O jogo de 2016 foi ontem. Deu seleção do Oeste, inacreditáveis 196 a 173 sobre a do Leste.
Com craques supremos como Michael Jordan, Magic Johnson, Scottie Pippen e Larry Bird, a seleção de basquete dos Estados Unidos conquistou a medalha de ouro na Olimpíada de 1992. Ganhou sempre com dezenas de pontos de vantagem. Celebraram-na como Dream Team. Naquele Time dos Sonhos, a alta performance esportiva se combinava com a estética refinada. Arte e desempenho, forma e conteúdo, fantasia e resultado. Tudo junto.
Na mesma cidade de Barcelona dos Jogos de 1992, assistiu-se neste domingo a um jogo para a história. Desses que jamais constrangerão um locutor ao pronunciar a palavra-clichê ''espetáculo''. Não foi numa quadra de basquete, mas no gramado do Camp Nou. No lugar dos basqueteboleiros norte-americanos, jogaram os boleiros Messi, Neymar, Suárez e Iniesta.
O que Messi e companhia fizeram ontem, nos 6 a 1 contra a boa equipe do Celta, esteve à altura dos seus melhores dias, ou dos melhores dias de Jordan e sua turma. Não foi apenas a atuação demolidora, capaz de resolver um jogo emperrado, difícil. Mas a coleção de movimentos coloridos, ações lúdicas. Mistura de Globetrotters, All-Star Game e Dream Team.
Messi abriu o placar batendo com brilho uma falta, no estilo de um Zico canhoto _o Galinho, destro, cobrava melhor. No segundo, acertou um passe vertical pelo alto, como uma linha torta de arquiteto irrequieto, encobrindo três defensores, para Suárez desempatar, 2 a 1. No terceiro, deixou três adversários para trás e tocou para Neymar, que driblou o goleiro e concluiu _Suárez tocou para o gol quando a bola estava sobre a linha. No quarto… ah, o quarto!
O argentino cavou um pênalti _que existiu_ depois de um drible desconcertante e se escalou para bater. Em vez de chutar no gol, tocou para o lado, num passe, e Suárez anotou. Mimetizou Cruyff, que em 1982 fez algo parecido pelo Ajax. A diferença é que então houve tabela, e o holandês finalizou. Ontem, coube a Messi o passe. Foi mais generoso que Cruyff.
No quinto, foi a vez de o uruguaio oferecer a assistência magistral, para Rakitic deixar o seu. Neymar fez o sexto, e muito mais. Uma carretilha que o brasileiro aplicou só não foi o momento mais sublime da jornada porque houve o pênalti nascido para a eternidade.
Era o Dia dos Namorados na Espanha. Se é verdade que o futebol influencia a disposição dos amantes, a noite deve ter sido longa na Catalunha.